Utilizo o artigo do prof. Luiz Sayão publicado na revista Enfoque Gospel, em janeiro de 2007, para reforçar os ensinos e argumentos do apóstolo Paulo às igrejas cristãs diante das críticas crescentes ao seu ministério por teólogos e igrejas liberais.
Faz-se necessário dizer que o pensamento de Paulo é a principal fonte de teologia propriamente dita, cristologia elaborada, hamartiologia e soteriologia do Novo Testamento, sem falar em sua escatologia. O protestantismo clássico sempre considerou a justificação pela fé e a reconciliação do homem com Deus por meio de Cristo como o âmago da teologia paulina. O erudito alemão Adolph Harnack considerava Paulo a principal fonte da história do dogma.
Apesar disso, o ex-perseguidor da fé cristã tem sido talvez o mais perseguido e desprezado cristão de todos os tempos. Os adeptos do judaísmo não gostam de Paulo, rejeitam-no mais do que o próprio Jesus! Os liberais quase o crucificam. As feministas o vêem como machista recalcado. Até alguns conservadores chegam a dizer em certos textos: “Isso é opinião de Paulo”. No entanto, sem Paulo, não há cristianismo neotestamentário. Afinal, quem era Paulo? E o que se tem escrito a seu respeito?
Tendo sofrido releituras profundas desde o Iluminismo e o liberalismo, Paulo chega a ser reescrito quase que inteiramente por muitos teólogos contemporâneos. Mais recentemente, uma nova abordagem da teologia paulina tem sido divulgada no mundo acadêmico. É conhecido como “nova perspectiva”. Três estudiosos estão ligados a esta interpretação de Paulo: Krister Stendahl, E. P. Sanders e James D. G. Dunn.
Entre os círculos judaicos mais radicais a Roma, o apóstolo Paulo chegou a ser apontado em sua época como um herodiano, segundo Robert Eisenman em seu artigo“Paul as a Herodian”, publicado em 1996 no Journal of Higher Critical Studies. Eram assim chamados, em alusão a Herodes e sua família, todos aqueles considerados cúmplices da dominação romana. Alguns historiadores, como Hyam Maccoby, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, afirmam em várias obras que ele fez um trabalho sistemático de construir uma religião conveniente para o momento, e o responsabiliza pelos evangelhos oficiais. Outros pesquisadores, como Geza Vermes, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, vão mais além na crítica às origens cristãs. “No relato de João da vida de Jesus, eles (os judeus) são um bando sedento de sangue que desde o início procurou matá-lo e não desistiu até ter sucesso em seus planos nefandos”, diz Vermes no livro A Religião de Jesus, o Judeu. “Eis a origem da tendência cristã de demonizar os judeus, a origem do antijudaísmo religioso, tanto moderno quanto medieval, que direta ou indiretamente conduz ao Holocausto.” Friedrich Nietzsche (1844-1900) no livro Para Além do Bem e do Mal (1885) qualificou o cristianismo como uma vulgarização da metafísica platônica, e, em Aurora: Pensamentos sobre os preconceitos morais (1881), afirmou: “Este [Paulo] é o primeiro cristão, o inventor do cristianismo! Até então havia apenas alguns sectários judeus.”
Republicou isso em Blog Paracletoe comentado:
De alguns para cá, tenho notado várias lideranças evangélicas questionando os ensinos do apóstolo Paulo. O argumento é que ele construiu o Cristianismo, indo além dos ensinos de Jesus.
Muitos teólogos liberais criticam o estilo conservador de Paulo porém não reconhecem plenamente que sua estutura de argumentação em cartas apostólicas conseguiu descolar-se do Judaísmo e conforntar o paganismo.
Paulo fez um esforço para contextualizar a mensagem do Evangelho para o mundo grego e romano sem afastar-se dos princípios do Ensino da Torá, dos profetas e da vida de Jesus. Se usados de forma equilibrada, a igreja moderna pode ser santa, adoradora e missionária.