1. Louvai ao SENHOR. Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu poder.
  2. Louvai-o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza.
  3. Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa.
  4. Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos.
  5. Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes.
  6. Tudo quanto tem fôlego louve ao SENHOR. Louvai ao SENHOR.

Este Salmo é um texto que nos dá base para aceitarmos o uso de muitos instrumentos que, por vezes, são marginalizados no culto ao Senhor. Entre os mais criticados estão a bateria, as percussões e o berimbau. Traduzindo os termos do versículo – adufe é o mesmo que pandeiro e címbalos são pratos – é fácil concluir que Deus não é contra os pratos utilizados em abundância na bateria. Noutras passagens bíblicas observa-se o uso dos tambores (Gn 31:27; I Sm 10:5; 18:6; Is 5:12; 24:8).

O tamborim é outro marginalizado. Miriã, irmã de Arão, o sumo sacerdote, em Êxodo 15:20, toca tamborim e dança, juntamente com outras mulheres, louvando ao Senhor. Mais tamborins em: Jz 11:34; II Sm 6:5; Jó 21:12; Sl 68:25; 81:2. Ajuntando todos esses instrumentos tem-se uma boa escola de samba tocando música brasileira da melhor qualidade.

Conclui-se, portanto, que o fato de se proibir o uso desses instrumentos no culto ao Senhor não é porque a Bíblia condena, mas porque o homem condena. O uso ou não desses instrumentos é questão cultural. Deus quer receber o louvor em espírito e em verdade, independente do instrumento que se está usando. Em muitas etnias, quando as pessoas se convertem, elas continuam a utilizar os seus próprios instrumentos para louvar a Deus. A Bíblia é clara: louvai ao Senhor com todos os instrumentos.

O destaque à quantidade de instrumentos musicais – trombeta, harpa, cítara, pandeiro, flauta – demonstra a grandiosidade e o fervor do poema que encerra o Livro dos Salmos. Em sua análise, Raguer coloca em evidência aspectos que se ligam à performance dessa passagem: os instrumentos de sopro são típicos dos sacerdotes, por terem sido utilizados para concretizar a queda das muralhas de Jericó (Js 6:4, por exemplo); já as cordas são dos levitas (1Cr 15:24, 16,6); os demais instrumentos são tocados por qualquer pessoa – destaca-se que os pandeiros são tipicamente femininos. Essa estrutura engloba a participação de toda a sociedade para a grande comemoração que representa esse salmo final. Raguer ainda propõe que, quando a letra do salmo mencionava um dos instrumentos, os aludidos participantes do coro tocavam ou tocavam mais forte, o que amplia o som e engradece ainda mais a celebração.

Como disse Santo Agostinho sobre estes versículos: «Não se omite aqui nenhuma classe de faculdade. Todas estão alistadas na adoração a Deus». O sopro é empregado para soprar a trombeta; os dedos são usados nos instrumentos de cordas como o saltério e a harpa; e a mão inteira é empregada para golpear o adufe; os pés para se mover na dança; há instrumentos de corda; há o órgão (o ugab, syrinx) composto de muitos tubos, impondo combinação, e os címbalos, que ressoavam um sobre o outro.

Por décadas, a igreja ficou limitada a apenas louvar a Deus com músicas, quando vemos claramente nesse salmo, e em inúmeros textos bíblicos, a ordem de louvá-lo com tudo o que somos e o que temos. Geralmente pensamos muito sobre os instrumentos. É correto pensar assim, mas aqui também inclui o nosso corpo. Os movimentos de nosso corpo geram a dança, que é movimento ritmado. Os grupos religiosos que condenam o uso de batuques ou danças não possuem compreensão da expressão corporal do povo judeu em suas Festas. Além disso, querem impedir a aceitação de expressões musicais como o samba para comunicar a Grandeza de Deus para o povo brasileiro.

Também não poderíamos deixar de lembrar que a dança é um poderoso ato profético, pois com ela guerreamos (Josué 6), celebramos, ministramos cura (João 5:4), festejamos (Lucas 15.25), louvamos (2º Samuel 6.14-16) e adoramos (Êxodo 15.20). A dança é a força do nosso corpo expressar hinos, orações, canções e a Palavra. Ela nos leva a louvar e adorar intensamente a Deus com todo nosso ser. A equipe de danças deve estar principalmente empenhada em anunciar a glória e a excelência de Deus e a apresentar as boas novas do evangelho.

O problema é que o escritor adventista Bacchiocch condenou o uso de baterias e danças no louvor das igrejas: “Por exemplo, não há nenhuma maneira no qual o povo de Deus, na terra, possa louvar o Senhor “no firmamento, obra do seu poder. O propósito do salmo não é especificar o local e os instrumentos a serem usados para o louvor durante o culto divino, mas sim convidar a tudo o que respira ou emite som a louvar o Senhor em qualquer lugar. O salmista está descrevendo com linguagem altamente figurativa a atitude de louvor que deveria caracterizar o crente a toda hora e em todos os lugares. Interpretar este salmo como uma licença para dançar, ou tocar tambores na igreja, é interpretar de forma errada sua intenção.” (O cristão e a música rock, p. 33).

Os címbalos são chamados no Salmo 150:5 de siltselê shamah e tsiltselê teru`ah respectivamente, referindo-se a dois tipos de címbalos com tonalidades e ressonâncias diferentes. A Harper’s Bible Dictionary (“Music”, p. 670) informa que eram pequenos címbalos de bronze de 4 a 6″ de diâmetro. O Music in the Ancient World informa que eram um par de pratos metálicos côncavos dipostos vertical ou horizontalmete. Em excavações de Hazor e Megido, foram encontrados vários tipos de címbalos de diâmetros entre 3 a 10 cm.

O Dr. Vilson Scholz, da SBB, opinou sobre o salmo: […] O texto hebraico traz a palavra “tôf” que, em Êxodo 15.20, foi traduzida por “tamborim”. Vejo que um grande número de traduções – a rigor, todas as que pude consultar rapidamente – trazem um termo parecido com “adufe” ou “tamborim”. Poderia ser, também, pandeiro. Às vezes essa palavra, que ocorre 17 vezes na Bíblia Hebraica, é traduzida por tambores, tamboril. O mesmo termo ocorre também em Jz 11.34, naquele episódio da filha de Jefté. Ali é traduzida por adufe. Não há nenhuma dúvida quanto ao significado desse termo. Quanto a “adufe”, o Dicionário Houaiss registra que se trata de “um tipo de pandeiro quadrado de origem árabe, usado por portugueses e brasileiros”. Portanto, algo do contexto oriental, bem ao sabor do mundo bíblico. E, além disso, algo que os portugueses e brasileiros supostamente conhecem.

Estranho que pessoas tenham dúvidas quanto a essa tradução. O que eu tenho ouvido – e recebido em forma de crítica – é a presença da palavra “danças”, em Sl 150.4, na Almeida Revista e Atualizada. Acontece que a Almeida Revista e Corrigida, por uma razão que ignoro, traz “flautas” naquele lugar. E há uma diferença entre dança e flauta! Mas o termo hebraico é, claramente, “dança”, por mais que isto incomode algumas pessoas. E as traduções tendem a seguir na linha da Revista e Atualizada.

 Para a pergunta: “É verdadeira a afirmação de que, entre os instrumentos tocados no templo (inclusive no segundo), os adufes não mais estavam presentes?”, o Dr. Scholz argumenta: Esta é uma argumentação baseada na diferença entre o que afirmam dois textos: 2Crônicas 29.25-26 (acrescido de Ed 3.1) e Salmo 150, colocados numa suposta ordem cronológica. Há dois problemas envolvidos nessa discussão: a questão da cronologia e os argumentos tirados do silêncio.

Comecemos com a questão da cronologia. Somos nós que colocamos os textos numa sequência cronológica (na medida em que eles se apresentam sem data, no cânone) e somos nós que interpretamos o silêncio dos textos neste ou naquele particular. Se a colocação de Sl 150 após 2Crônicas é vista como fruto de pré-concepção, não menos preconcebida (e difícil de sustentar, em termos históricos) é a ideia de que Sl 150 é anterior a 2Crônicas. (Será difícil encontrar um biblista que pensa que o Salmo 150 é de “algum período pré-Santuário”. O fato de encerrar o Livro de Salmos sugere que foi escrito mais adiante, na história de Israel. Mas, de novo, não há como comprovar isso.) A colocação de Sl 150 antes de 2Crônicas se deve, não a argumentos históricos, mas ao desejo de provar que, a partir de certo momento, os tambores foram excluídos do culto, mesmo que o texto não afirme isso.

A questão do argumento do silêncio dos textos também é problemática. O fato de 2Crônicas não mencionar “adufes” não significa que não os houvesse naquele momento (tampouco que não vieram a existir ou a serem usados depois; é possível que, no período posterior a Ezequias, os adufes foram incluídos entre os instrumentos usados no culto).  Mas o mais importante é que um texto não “desmente” o outro abertamente. Se 2Crônicas dissesse, com todas as letras, “revogando o que havia anteriormente, conforme o Sl 150”, o problema estaria resolvido. Acontece, porém, que o texto não diz isso. Tampouco o Sl 150 diz: “aumentando a lista de 2Crônicas”. Assim, do mesmo modo como é possível argumentar a favor da sequência: “presença de adufes” (Sl 150) seguida de “ausência de adufes” (2Crônicas), é igualmente possível argumentar pela sequência “ausência de adufes” (2Crônicas) – “presença de adufes” (Sl 150). Os textos, em si, não estabelecem um diálogo; quem os coloca lado a lado é o intérprete. E, em termos históricos, a sequência 2Crônicas – Sl 150 é mais crível do que a sequência contrária.

A rigor, temos textos bíblicos que mencionam os adufes e textos que não os mencionam. E não temos nenhuma indicação no sentido de que, a partir de certo momento, adufes não podiam mais ser usados. Na medida em que esses instrumentos são citados, são lícitos (ou eram lícitos em determinado momento). E enquanto não se disser, no texto bíblico, que não são lícitos, não podemos concluir que não sejam.

É claro que existem duas maneiras de argumentar (e aqui já passo à aplicação disso aos nossos dias): Primeiro, que só se pode usar o que é citado (ou ordenado) na Bíblia. Neste caso, nenhum instrumento elétrico ou eletrônico poderia ser usado! Segundo, que tudo que não é proibido na Bíblia, é lícito para uso. (Eu me identifico com este ponto de vista.) Como a Bíblia não proíbe os adufes ou tambores, que sejam usados por quem entender que é bom e possível usá-los. (É claro, há quem argumente que o Novo Testamento não ordena o uso deste ou daquele instrumento, no culto, o que poderia sugerir que não se deve usar instrumento algum. Por outro lado, o Novo Testamento não proíbe o uso de nenhum instrumento. No Apocalipse, aparecem harpas e trombetas).

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