Imagine que no início da aula, um professor apresenta um frasco cheio de moedas/cédulas e anuncia que ele será leiloado. Os alunos podem dar um lance, ele explica, e a maior oferta ganha o conteúdo do frasco em troca do lance. Depois de todos terem escrito suas propostas, o professor da classe analisa o maior lance. E Roberto foi o ganhador com o lance de R$19,00.
“Parabéns, Roberto , você acabou de ganhar todas as moedas do pote!”, diz o professor e perguntou “Como você está se sentindo?”. “Péssimo.”, diz Roberto, antes mesmo de ouvir o quanto de dinheiro o frasco continha.
E Roberto estava correto em sentir-se péssimo. O frasco que ele ganhou continha cerca de R$12,00 em moedas e cédulas. Lembre-se que no cenário de licitação de uma negociação competitiva, ganhar, não é sempre o mais ideal. Ele estava correto em sentir-se péssimo. O frasco que ele ganhou continha cerca de R$12,00. Lembre-se que no cenário de licitação de uma negociação competitiva, ganhar, nem sempre é o mais ideal.
Leilões permeiam nosso mundo, a partir de ofertas de fusões e aquisições ou leilões de contratos. Uma Empresa pode ganhar um leilão de uma mercadoria, de valor duvidoso com um bom número de licitantes e normalmente paga mais do que o ativo realmente vale.
O termo inglês auction, que é traduzido por leilão, tem origem na palavra latina augere, que significa aumentar. Os leilões são usualmente analisados como jogos não cooperativos de informação incompleta entre participantes que competem entre si. O conceito apropriado para solução destes é o equilíbrio Bayesiano de Nash, em que cada participante maximiza o seu resultado esperado no leilão condicionado às estratégias de seus competidores e a informação que este acredita que seus competidores possuem.
Na Teoria dos Leilões, conforme Vickers, o preço médio previsto aumenta conforme o número de licitantes aumenta. Isso implica que haverá mais agressividade na oferta de preços. Para Capen, Clapp e Campbell afirmam: “se uma pessoa ganha um contrato contra outras duas ou três, ela pode se sentir com boa sorte. Porém, como uma pessoa deveria se sentir se vencesse 50 outras? Bem mal.”
O resultado financeiro de um leilão é dado pela diferença entre o valor real do
objeto em leilão e o valor da oferta vencedora:(Resultado financeiro) = (Valor real do objeto) – (Oferta vencedora)
O governo brasileiro iniciou em 2015 a “privatização dos aeroportos”. Foram leiloados 3 aeroportos para consórcios formados por empresas nacionais e estrangeiras. Os preços pagos na licitação foram muito elevados, registrando forte ágio frente aos valores mínimos definidos pelo governo. Vale ressaltar que os consórcios poderiam ter levado os aeroportos que adquiriram por valores muito inferiores aos pagos por eles. Nota-se aí, a ocorrência do fator incerteza na hora de fazer o lance. O potencial comprador fica inseguro e não quer “perder” o leilão. Por isso joga o seu lance (preço) lá para cima.
A título de informação, o consórcio liderado pela Invepar (em parceria com a sul-africana ACSA) venceu a disputa por Guarulhos (SP), oferecendo R$ 16,213 bilhões – ágio de 373% em relação ao lance mínimo estipulado pelo governo (R$ 3,424 bilhões). O segundo lance mais alto para Guarulhos foi do consórcio liderado por EcoRodovias, que ofereceu R$ 12,863 bilhões (ágio de275%).
A Triunfo Participações e Investimentos venceu a concessão de Viracopos, com lance de R$ 3,821 bilhões (ágio de 159% em relação ao mínimo de R$ 1,471 bilhão). Ao todo, quatro consórcios fizeram lances por Viracopos. O segundo melhor lance foi de R$ 2,524 bilhões, o terceiro de R$ 2,113 bilhões e o quarto foi de R$ 1,7 bilhão.
No caso do aeroporto de Brasília, o vencedor foi o consórcio liderado pela Engevix, com lance inicial de R$ 3,5 bilhões, mas foi obrigado a melhorar seu lance na segunda etapa do leilão e venceu a disputa com uma oferta de R$ 4,5 bilhões (ágio de 673,39%). Outros concorrentes foram os consórcios de OHL Brasil (cujo maior lance foi de R$ 4,4 bilhões), Invepar (lance de R$ 3,213 bilhões) e Fidens (R$ 3,082 bilhões).
É claro que fatores inerentes aos planos de negócios desses grupos como, por exemplo, a estimativa de fluxo de caixa e taxa de retorno do projeto, além da existência de condições favoráveis para o financiamento dos investimentos requeridos para cada aeroporto, levou os grupos a pagarem preços muito acima do “razoável”.
Por fim, só o futuro dirá se os consórcios “acertaram” em suas decisões; mas, a essa altura, será tarde demais para reverter qualquer erro de avaliação e eventual prejuízo daí decorrente. O que se pode afirmar com certeza, é que existe precedente na literatura indicando haver alta probabilidade de ocorrência da maldição do vencedor nesses casos.
Fonte: O FENÔMENO DA MALDIÇÃO DO VENCEDOR EM LEILÕES