Em postagem do dia 09/10/2015, opinamos que a atual guerra na Síria ocorre pelo esgotamento dos mananciais de água da região. Pode se tornar a primeira guerra da Era moderna pela busca de água, embora tenha alguns outros motivos periféricos.

Durante a 1a Guerra Mundial, Laurence da Arábia tentou libertar a Síria do Império Otomano. Os franceses se envolveram, dividindo o país e dando à minoria Alauita (uma seita Xiita) o poder sobre os muçulmanos Sunitas. Na década de 1920, a França estabeleceu a Síria como seu protetorado – uma espécie de colônia moderna. Em 1946, a Síria se tornou independente e um muçulmano alauíta chamado Assad se tornou forte (seu nome significa “leão”).

A doutrina alauíta – uma variante heterodoxa e esotérica do xiismo – foi elaborada no Iraque no século IX por Mohammad ben Nusseir, discípulo do 10º imã Ali Hadi, que entrou em dissidência. Assim como os xiitas, que veneram Ali, primo e genro do profeta Maomé, os alauítas o idolatram. Para eles, Maomé não é mais que um véu que esconde “a essência” encarnada por Ali. O terceiro personagem desta trindade é Salman Pak, um companheiro de Maomé considerado a “porta” do conhecimento. Seus seguidores acreditam na reencarnação, em geral carecem de mesquitas, ignoram o jejum e a peregrinação a Meca, toleram o álcool e suas mulheres não utilizam véu. Celebram as festas muçulmanas e também as cristãs. A minoria é tida por herética e mesmo como não-muçulmana por diversas correntes sunitas.

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Em 1971, o alauíta Hafez Assad – pai do atual governante, Bashar Assad – se tornou presidente, permanecendo como tal por longos 30 anos. Desde então, os alauítas, que representam apenas 12% dos 22 milhões de sírios, passaram a privilegiar outras minorias, fortalecendo sua relação com os cristãos ortodoxos (10% da população) e os drusos (3%) e ofuscando a importância dos sunitas, majoritários (74%) – o que despertou a ira desses. Com o passar do tempo, as minorias se tornaram mais ricas, ganharam um papel de relevância nas forças armadas e ocuparam postos importantes no estado. Aos poucos, foi sedimentada uma imensa rede de favorecimentos, que funcionou ao longo das últimas décadas apesar da insatisfação da maioria. Até que esse sistema se transformou em uma verdadeira ditadura, levando os sunitas ao limite da tolerância.

Assad também odiava Israel. Em 1973 ele foi à guerra. Israel ganhou mas Assad afirmou que ele fez o Islã se orgulhar. A guerra destruiu a região, mas lhe trouxe mais poder, mais aliados e fortaleceu a aliança com a Rússia e Irã. Em 2000, ele morreu.
No mesmo ano, seu filho, Bashar alAssad se casou com uma esposa Sunita.

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Thomas Friedman, colunista do New York Times, escreveu que é impossível entender o que acontece no país neste momento (uma guerra civil que já dura três anos e deixou mais de 130 mil mortos, além de milhões de refugiados) sem saber que, entre 2006 e 2010, o país experimentou a pior seca de sua história moderna. Durantes três anos e meio, os dirigentes não ajudaram os afetados pela falta de água no Norte da Síria. A conclusão é a de que o presidente sírio, Bashar al-Assad, brincou com fogo ao menosprezar a capacidade de indignação dos refugiados climáticos da região.

— Um milhão de pastores e agricultores foram obrigados a deixar suas casas e mudar para Aleppo, Homs, Hama e Damasco. E o governo sírio não fez nada por eles — lembra Friedman. — Quando a revolução estourou na Tunísia e começou a se aproximar da Síria, eles estavam prontos para se juntar aos rebeldes. Você tinha um milhão de refugiados climáticos no Norte da Síria, estressados e desesperados, e Assad não fez nada por nenhum deles.

 

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