Geoffrey Blainey, em Uma Breve História do Cristianismo, opina que o apelido de quakers (trêmulos) tornou-se a denominação do grupo comparado às procelárias (aves que prenunciam tempestades) por Bunyan e muitos outros religiosos ingleses. Essas aves voavam pela Inglaterra em formação desordenada, aos gritos, e as pessoas desejavam que não pousassem por perto. Em uma notável transformação, os quakers viriam a tornar-se os apóstolos do silêncio.
O fundador do grupo, George Fox, era aprendiz de sapateiro quando começou a guerra civil na Inglaterra. Depois de muitas dúvidas e discussões, ele começou a pregar em locais abertos, onde pudesse atrair ouvintes. Fox nunca teve medo de expor suas críticas. Acabou preso pela primeira vez em 1649, por interromper o sermão em uma igreja.
Fox viveu várias experiências religiosas, que relatou com simplicidade: “Um dia, eu voltava
para casa a pé, sozinho, quando fui tomado pelo amor de Deus. Não havia nada a fazer, a não ser admirar a grandeza de seu amor.” Em outro dia: “Estava sentado junto ao fogo, e uma nuvem grande desceu sobre mim, trazendo a tentação. Mas eu resisti.” Decorrido algum tempo, ele ouviu uma voz interior que dizia: “Existe um Deus vivo que fez todas as coisas.” Fox não sabia, mas esse tipo de experiência mística era uma tradição católica que tinha entre seus expoentes Bernardo de Claraval, Teresa de Ávila, Catarina de Gênova e muitos outros.
Depois de converter e reunir alguns seguidores, Fox decidiu dar um nome ao grupo: Amigos da Verdade. Mais tarde, a denominação mudou para Amigos, simplesmente, e daí a algum tempo passou a Sociedade dos Amigos. Mas o povo só os chamava de quakers.
Os quacres afirmavam que, para obter orientação, eles contavam com o espírito santo, os profetas bíblicos, os apóstolos de Cristo e uma “luz” interior ou “voz” de uma alegada verdade espiritual. Por essa razão, suas reuniões eram basicamente períodos de silêncio em que cada pessoa procurava a orientação de Deus. Qualquer um que recebesse uma mensagem divina podia expressar-se.
Os quacres acreditavam na justiça, na honestidade inquebrantável, num modo de vida simples, e defendiam a não violência. Também afirmavam que todos os cristãos, incluindo as mulheres, deveriam participar no ministério. Os quacres causavam medo e criavam um clima de suspeita porque questionavam as religiões tradicionais, repudiavam os rituais ostentosos e formais, e afirmavam ser guiados por uma voz interior, não por uma classe clerical. Uma característica muito preocupante era seu zelo missionário, que provocava raiva, tumultos e intervenção oficial.
A ligação entre os primeiros puritanos e o capitalismo é, em parte, circunstancial. Quando eles se opuseram à igreja estatal – e, portanto, ao Estado em si –, foram cortados de outras atividades econômicas. Após chegarem à Nova Inglaterra, eles foram forçados a abandonar seu sistema comunitário, já que não conseguiram produzir comida suficiente e outros bens necessários para se alimentarem e pagar seus investidores. Ainda assim, abraçaram os valores de um comércio virtuoso, acreditando que o trabalho do agricultor e do comerciante era tão importante quanto o do pregador. Os puritanos viam a indústria como uma maneira de servir não apenas a Deus mas, também, ao próximo. “O principal objetivo de nossas vidas”, escreveu o clérigo William Perkins, “é servir a Deus ao servirmos aos homens no cumprimento de nosso chamado”.
No livro O Mundo de Ponta-Cabeça, Christopher Hill mostra a ferrenha crítica religiosa que rondava os radicais, das críticas à Igreja Estatal, do comportamento do clero, e da ideia de que a religião era uma forma de controle e de opressão sobre os pobres; até o radicalismo religioso, com a abolição do pecado e a negação da existência de Deus. Na obra de Hill podemos sentir a originalidade do pensamento das classes populares, e perceber a importância de sua participação no processo revolucionário da década de 40, e – mesmo com a violenta repressão sofrida pelos grupos populares a partir da Restauração (e mesmo antes desta no caso de James Nayler) – sentimos as suas sobrevivências ao longo do tempo, influenciando, mesmo que de forma subterrânea os movimentos subversivos da ordem tradicional inglesa e da luta por direitos por parte das camadas marginais da população.
A revista Cristianismo Hoje publicou artigo em 8 de abril de 2015, destacando o surgimento de grupos e fundos de investimento cuja ênfase continua sendo a produção de riqueza – mas, também, promover alguma transformação na vida das pessoas, sobretudo aquelas mais pobres.São os novos empreendedores sociais que podem ser revolucionários quando propõem uma nova forma de progresso econômico a partir de princípios de fé.
Penso que eles precisam gritar mais forte assim como os grupos religiosos do século XVII iniciaram as bases para o Avivamento inglês. O ambiente religioso no Brasil está fértil para a promoção de agentes de transformação similares a médio e longo prazo.
A história do investidor de impacto Aslan Global Management começou em 2005, quando Paul Larsen e Jes Tarp frequentavam a mesma igreja. Larsen havia trabalhado em uma grande corporação de Wall Street até se juntar ao seminário financeiro de Gary Moore em Sarasota, na Flórida. Tarp estava dando aulas na Ucrânia, onde constatou que o colapso do comunismo havia deixado os ucranianos com muitos campos agrícolas, mas pouco conhecimento para desenvolvê-los. Ele começou, então, a alugar terras dos ucranianos e contratá-los para trabalhar nelas.
A GuideStone, que oferece às pessoas e aos empregadores tudo – desde planos de aposentadoria a pacotes de fundos mútuos –, é a maior empresa de investimento cristã, e possui apenas 10 bilhões de dólares sob gestão, enquanto uma empresa como a Charles Schwab possui US$ 2,3 trilhões em ativos de clientes.
Rusty Leonard comanda sua própria empresa de investimentos cristã, a Stewardship Partners. Ele tem seguido as novas tentativas de investimento de impacto cristão, observando muitas empresas surgindo e acabando. “Eu não sou naturalmente pessimista, mas é difícil ser otimista nessa área”, ele diz. “Os evangélicos, em particular, parecem ser curiosamente resistentes a investir com base em suas crenças”. Há também a enorme quantidade de dinheiro necessária para se investir em empresas como a SpringHill e Sovereign’s Capital: o valor de entrada para cada uma é de 50 e 100 mil dólares, respectivamente.
“A comunidade cristã tem feito um excelente trabalho de compartimentar dinheiro e fé”, diz David Gautsche, vice-presidente sênior de produtos e serviços na Everence, um grupo de fundos lançado há 25 anos e ligado à Igreja Menonita. Porém, um número cada vez maior de pessoas – especialmente à medida que as oportunidades crescem – está escolhendo investimentos com base religiosa. Havia apenas dois grupos de fundos cristãos no início dos anos 90, mas agora há cerca de uma dúzia, além do surgimento de novos grupos trimestralmente. “A maneira como gastamos e investimos nosso dinheiro deve refletir quem dizemos ser, isto é, pessoas religiosas”, afirma Gautsche. E isso faz a diferença na vida real. Gautsche observa que a Everence fez parceria com a Hershey para incentivar o compromisso da empresa de chocolate de usar apenas cacau produzido através de trabalho que não possa ser considerado análogo à escravidão.