Albert Einstein disse que daria tudo, inclusive o Prêmio Nobel, em troca da capacidade para tocar violino bem o suficiente para participar de uma orquestra. Mas ele simplesmente não tinha coordenação entre braços e mãos que é um pré-requisito para ser um grande violinista. Ela adorava tocar, praticava 4 horas por dia e tinha muito prazer naquilo. Mas não era seu ponto forte. Einstein sempre dizia que detestava matemática. Ele era um gênio em matemática. Forças não são aptidões, são capacidades.
Angela Duckworth, autora de Garra, o poder da paixão e da perseverança, destaca que o aprendizado acontece aos poucos. Os melhores violinistas de uma escola de música alemã acumularam 10.0000 horas de estudo ao longo de 10 anos antes de alcançar níveis de elite de habilidade.
Ela destaca a conclusão do psicólogo cognitivo Anders Ericsson em que profissionais excepcionais não somente dedicam mais horas à prática. O mais importante, contudo, nota-se que eles praticam diferente. Ele chama de prática disciplinada.
Angela comenta que nós adoramos pessoas com talentos inatos. Ela cita a pesquisa entre músicos e empreendedores que atribuíam à pessoas talentosas maior probabilidade de sucesso. O viés do talento é um preconceito oculto contra aqueles que chegaram onde estão porque se esforçaram.
Há uma história a respeito de um grande clarinetista de uma orquestra, que foi convidado pelo maestro para sentar-se na plateia e ouvir a orquestra tocar. Pela primeira vez ele ouviu a música. Ele não era simplesmente um grande clarinetista, agora ele estava fazendo música. Isso é auto renovação.
O professor de violão explicou bem o porquê da repetição dos ensaios musicais para a neurocientista Suzana: “primeiro a gente tira as notas da música, para depois poder tirar música das notas”.
No seu Blog da Folha de São Paulo, ela explica com neurociência. O aprendizado de procedimentos, sequências motoras que são, consiste no fortalecimento de conexões entre os neurônios que representam as diferentes ações, formando redes em que a ativação de um neurônio, um nó da rede, basta para trazer consigo a ativação dos seguintes, na ordem certa, no momento certo. Enquanto essas redes não existem, é preciso que o córtex cerebral exerça controle atento, selecionando e ativando neurônios específicos a cada momento. Dá trabalho e não flui.
A repetição bem-sucedida, contudo, é o que permite que a rede vá se formando, envolvendo não só neurônios no córtex cerebral como nos núcleos da base também, encadeando os movimentos que tocam as notas da música. Chegando a este ponto, as sequências ficam automatizadas –e o córtex pode, finalmente, dedicar sua atenção a outra coisa: brincar com as notas, tirando delas a música que se almejava. Uma vez que o cérebro já sabe fazer os dedos acharem as notas, é possível se dedicar à interpretação. Praticar transcende a repetição e passa a ser experimentação.
E divertimento, também. Suzana descobriu em Nashville as aulas de zumba no ginásio da universidade. Mas só gostamos de uma das professoras –e agora entendi por quê. Quando eu já ia começar a reclamar que as coreografias são sempre iguais, me descobri dançando mentalmente nas filas do aeroporto. Rachel faz mais do que ensinar os movimentos; ela dança a aula toda – e, agora que já fiz aulas suficientes para aprender os movimentos, posso dançar também.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da Universidade Vanderbilt (EUA) e autora do livro “The Human Advantage” (Amazon.com) suzanahh@gmail.com
ANGELA DUCKWORTH é psicóloga na Universidade da Pensilvania, atuou como conselheira na Casa Branca, no Banco Mundial e times da NBA. É diretora do Character Lab