O médico americano John Ioannidis, de 50 anos publicou artigo em junho, Por que a maior parte da pesquisa clínica não é útil. Seu artigo mais famoso, divulgado em 2005, afirmava haver maior probabilidade de estudos médicos publicados estarem errados do que certos. Ao denunciar os erros das pesquisas, porém, Ioannidis conquistou o respeito e não a inimizade na academia.
No início deste ano, uma série de artigos divulgados em The Lancet relatou que 85% dos US$ 265 bilhões gastos anualmente em pesquisas médicas são desperdiçados. A maior parte dessas pesquisas é patrocinada por fabricantes que, claramente, querem chegar a um resultado determinado ou, pelo menos, interpretá-lo segundo suas intenções. Quando a indústria farmacêutica está envolvida em pesquisa, não é pela curiosidade da descoberta científica ou para salvar as pessoas. Ela quer ganhar dinheiro. Pesquisadores de um estudo em que há um patrocinador com conflito de interesses podem até chegar aos mesmos resultados de outros envolvidos em uma pesquisa em que não há patrocínio.
Isso não se deve a fraudes, embora seja verdade que retrações [de pesquisas] estejam em ascensão. O que ocorre é que com frequência excessiva não acontece absolutamente nada depois da publicação dos resultados iniciais de um estudo. Não há trabalhos de acompanhamento (follow-up) para replicar ou expandir uma descoberta, e ninguém aproveita os resultados para desenvolver novas tecnologias.
Esse é o objetivo de um novo centro fundado por John Ioannidis com Steven Goodman, médico e perito em pesquisa clínica, em abril deste ano na Stanford University: o Meta-Research Innovation Center at Stanford (METRICS) (Centro Inovador de Meta-Pesquisa de Stanford).
Acadêmicos do METRICS se dedicarão ao estudo de práticas de pesquisa e sugerirão meios para otimizá-las. Além disso, eles examinarão qual é a melhor forma de criar protocolos e agendas de pesquisa para garantir que os resultados não sejam “becos sem saída”, mas que abram o caminho para novos avanços. O objetivo é explorar e determinar as melhores maneiras de tornar pesquisas científicas mais confiáveis e eficientes.
Os integrantes do METRICS têm, por exemplo, um grande interesse em ciência colaborativa de equipes, registros de estudos, designs de pesquisas e ferramentas estatísticas mais fortes, e melhor avaliação/revisão por pares.
Um número crescente de publicações científicas, inclusive a Nature e a Science, tem adotado medidas como listas de checagem para design e elaboração de relatórios de estudos, aprimorando, simultaneamente, revisões estatísticas e incentivando acesso a dados e protocolos. (A Scientific American faz parte do Nature Publishing Group).
Pesquisadores deveriam ser recompensados por praticarem “boa ciência”, em vez de só apresentarem resultados alardeantes, estatisticamente significantes (“positivos”), mas não replicáveis.