Recente pesquisa envolvendo 20 mil pessoas, em quatro continentes, identificaram as características que eles mais procuravam e admiravam em um líder. Foram identificadas apenas quatro características por mais de 50% dos entrevistados: competência (63%), inspiração (68%), visão de futuro (75%) e honestidade (88%). Penso que honestidade tem um sentido de integridade e franqueza. Os 2 atributos precisam andar juntos para tornar um líder honesto.

Em seu livro, A mais pura verdade sobre a desonestidade, Dan Ariely conta uma piada sobre um homem visivelmente chateado que  visitou o rabino um dia e disse: “Rabi, você não vai acreditar no que aconteceu comigo! Na semana passada, alguém roubou minha bicicleta na sinagoga!”
O rabino fica profundamente aborrecido, mas após pensar por um instante, oferece a solução:“Na próxima semana, venha para o serviço religioso, sente-se na primeira fila e, quando recitarmos os Dez Mandamentos, vire-se e olhe para as pessoas atrás de você. Quando chegarmos ao ‘Não Roubarás’, veja quem não consegue olhá-lo nos olhos e essa será a pessoa.” O rabino ficou muito satisfeito com sua sugestão, e o homem também. No serviço religioso seguinte, o rabino fica curioso em saber se seu conselho funcionara. Ele espera pelo homem na porta da sinagoga e pergunta: “Então, funcionou?” “Como um encanto”, respondeu o homem. “No momento em que chegamos ao ‘Não Cometerás Adultério’, lembrei-me exatamente de onde havia deixado a bicicleta.”

O que essa pequena piada sugere é que nossa memória e consciência dos códigos morais (a exemplo dos Dez Mandamentos) podem ter efeito sobre como vemos nosso próprio comportamento.
Inspirado pela lição por trás dessa piada, Ariely realizou, junto com Nina e On, um experimento na University of Califórnia, em Los Angeles (UCLA). Pegaram 450 participantes e os dividiram em dois grupos. Pediram para a metade pensar nos Dez Mandamentos e, em seguida, tentaram influenciá-los a trapacear em uma tarefa de matrizes. Para a outra metade, pediram que tentassem se lembrar de 10 livros que haviam lido no ensino médio antes de liberá-los para as matrizes e a oportunidade de trapacear. No grupo que se lembrou dos 10 livros, constataram a típica trapaça generalizada, mas moderada. Já no grupo que foi convidado a se lembrar dos Dez Mandamentos, observaram que não houve trapaça alguma, apesar de ninguém do grupo ter conseguido se lembrar de todos os 10.
Esse resultado foi muito intrigante. Parecia que só o fato de tentar se lembrar de padrões
morais foi suficiente para melhorar o comportamento moral. Em outra tentativa para testar esse efeito, pediram a um grupo que se autodeclarava ateu a jurar sobre a Bíblia e depois lhes deram a oportunidade de reivindicar ganhos extras na tarefa da matriz. O que os ateus fizeram? Eles não se desviaram do caminho moralmente rígido e correto.

giges anel

No “Mito do Rei de Giges”, de Platão, um pastor chamado Giges encontra um anel que o torna invisível. Com esse novo poder, ele decide cometer uma série de crimes. Assim, ele viaja para a corte do rei, seduz a rainha e conspira com ela para matar o rei e assumir o reino.
Ao contar a história, Platão se pergunta se há alguém vivo que consiga resistir às vantagens do poder da invisibilidade. A questão, então, é se a única força que nos impede de cometer delitos é o medo de sermos vistos pelos outros (J. R. R. Tolkien escreveu sobre esse tema alguns milênios depois, no livro O senhor dos anéis). Para mim, o mito de Platão oferece uma bela ilustração do conceito de que os ambientes de grupo podem inibir nossa propensão a trapacear. Quando trabalhamos com uma equipe, os outros membros podem atuar informalmente como monitores e, sabendo que estamos sendo observados, acabamos nos sentindo menos inclinados a agir de maneira desonrosa.

Geralmente, pessoas que decidem realizar trapaças começam a ficar invisíveis. Afastam-se de amigos e familiares, cortam vínculos sinceros e aceitam práticas mais liberais.

trapaça em colaboração

Se a colaboração aumenta a desonestidade, o que podemos fazer a esse respeito? Uma resposta óbvia é aumentar o monitoramento. Na verdade, parece ser a resposta padronizada dos reguladores do governo a cada ocorrência de má conduta empresarial. Em alguns casos, em vez de adicionar várias camadas de regras e regulamentos, talvez pudéssemos colocar nosso olhar sobre a mudança da natureza da colaboração em grupo.