Mitchel J. Neubert e três colegas na Baylor University investigaram a conexão entre fé e a propensão para iniciar um negócio, examinando dados de uma pesquisa feita com 1.714 adultos sobre seus hábitos religiosos. Descobriram que os empresários rezavam com mais frequência do que as outras pessoas e tinham mais propensão em acreditar que Deus era pessoalmente responsável por eles.
O desafio: Será que as pessoas que abrem uma empresa realmente sentem uma conexão mais profunda com o Divino em relação àquelas que não são empreendedoras?
Empresários parecem ser mais religiosos de duas formas estatisticamente significativas. Rezam mais — diversas vezes por semana, em média — e têm uma tendência maior em acreditar num Deus receptivo, que se interessa pessoalmente por eles. As duas coisas estão relacionadas: se você acha que Deus se preocupa com você, tem mais chances de falar com Ele. Os empresários tendem a fazer parte de uma comunidade religiosa, de preferência uma que incentive a atividade empresarial. Quanto a outras questões como afiliação, idas à igreja e crença em Deus, eles parecem ser tão religiosos como os demais: nove, em dez, são afiliados a alguma igreja, que frequentam em média uma vez por mês. E dois terços dizem não ter a menor dúvida sobre a existência de Deus. Sem dúvida, esses dados podem surpreender quem assume que gestores são muito ocupados ou muito gananciosos para ter tempo para a religião.
HBR: O senhor está se dedicando ao tema por que a Baylor é uma universidade cristã?
Meus colegas, os professores Kevin Dougherty e Jerry Park, a estudante graduada Jenna Griebel e eu estamos estudando o tema porque os empresários têm um papel preponderante na economia americana e é fundamental entender aquilo que os move. Além do fato de que são raras as pesquisas sobre sua religiosidade. Em 2004, um estudo com 44 empresários descobriu que a religiosidade era positivamente relacionada à ambição pessoal e inovação e, em 1985, um estudo com uma primeira geração de nipo-americanos mostrou-os ligados e participantes das tradições religiosas familiares. Mas ambas foram pequenas amostras e em outra pesquisa, com trabalhadores no Reino Unido e empresários no Colorado, os resultados foram contraditórios.
Queríamos examinar uma amostra nacional aleatória — usando a Pesquisa Baylor de Religião — que abordas-se outras questões além de filiação, crenças e comportamentos. Só porque alguém vai à igreja não significa que ela é marcante em suas vidas. Isso foi parte de um projeto de múltiplas fases sobre religião e empreendedorismo, com apoio de uma bolsa da National Science Foundation.
Vocês se interessaram também por outras crenças, tais como o judaísmo e o islamismo?
Nossa amostra incluiu entrevistados das maiores religiões. Mas nos Estados Unidos, até numa amostragem nacional, você está falando primordialmente de cristãos, já que o número de muçulmanos, judeus e pessoas de outras religiões, bem como ateus e agnósticos, é bem menor.
E para o que rezam esses empresários?
Infelizmente não sabemos o conteúdo de suas preces. Estariam pedindo energia, inspiração, sucesso? Estão expostos a muito mais incertezas e riscos do que o restante de nós. Por isso, talvez sintam necessidade de rezar mais. Talvez a pressão de começar e gerir um negócio que sustente a família aumente suas inclinações espirituais.
Ou talvez as pessoas com mais fé em Deus estejam dispostas a correr mais riscos.
Sim, penso que existe uma confiança que vem de suas crenças religiosas. E talvez o individualismo e a autonomia associados com o empreendedorismo estejam refletidos na ideia de uma relação mais pessoal, mais direta com Deus.
Suas conclusões sobre congregações apresentam uma dúvida sobre o que veio primeiro, o ovo ou a galinha: os empresários gravitam em torno de igrejas que são pró-negócio, ou essas igrejas estimulam as pessoas a começar empresas?
Não sabemos em que direção apontar. Talvez os empresários encontrem um local que lhes reafirme seu modo de pensar. Ou talvez estejam influenciados por suas igrejas, seus pares e líderes. Uma comunidade religiosa certamente rende capital social e pode ser fonte de consumidores, investidores, funcionários e também de incentivo e ideias. E algumas dessas congregações realmente enfatizam a integração do trabalho, da adoração e do planejamento financeiro, dando um direcionamento mais inovador às suas igrejas, como um negócio.
Mas, de qualquer forma, quando perguntamos aos empresários, em uma sequência de entrevistas, por que escolheram suas igrejas, muitos se referiram à localização, aos amigos e à família. Não disseram “Ah, esta é a congregação mais pró-negócios da vizinhança”.
Talvez seus achados expliquem a popularidade crescente do empreendedorismo social.
Bem, sabemos que empreendedores sociais têm uma meta de lucro, e isso poderia vir de crenças espirituais. Mas a grande maioria, cerca de 28,6% das pessoas de nossa amostragem que começaram ou estavam tentando começar um negócio, o fez pelos motivos tradicionais: trabalhar para si mesmo ou vender um produto ou serviço que lhes proporcionasse conforto.
O senhor mostrou um elo entre a fé e a atividade empresarial. E quanto ao sucesso empresarial?
Incluímos algumas perguntas em aberto sobre lucratividade e outras medidas de desempenho em um follow-up de acompanhamento. Contudo, muitas pessoas as deixaram em branco. Ainda assim, acho que a questão merece uma investigação mais aprofundada, e vamos explorá-la em futuras pesquisas. Em outro estudo que o professor assistente de Baylor, Steve Bradley, e eu fizemos com participantes em programas de microfinanças na África e na Indonésia, descobrimos que o valor dado pelas pessoas em seu relacionamento com Deus está relacionado à forma como tratam seus semelhantes — denominamos seu “capital espiritual” — foi associado a mais inovação, mais receita e mais funcionários em seus negócios. Outro documento em análise investiga um pouco mais as características das congregações e mostra que os membros dos grupos que enfatizam a integração da fé ao trabalho são mais empreendedores, satisfeitos e comprometidos. Esses funcionários contribuem claramente para o sucesso das organizações.
Suas descobertas, então, valem não apenas para empresários, mas também para grupos de estudo em organizações estabelecidas?
Sim, descobrimos que pessoas com crenças religiosas são mais engajadas e dedicadas ao trabalho. Não sabemos especificamente como isso acontece. Na última fase de nossa pesquisa, passamos um tempo com fiéis em quatro áreas dos Estados Unidos: protestantes negros no Texas, protestantes em New Jersey, evangélicos em Michigan e católicos na Califórnia. Mirando duas delas (uma pró-negócios, outra nem tanto) em cada localidade, entrevistamos dez empresários e dez funcionários de todas as oito congregações, fazendo perguntas mais específicas sobre o impacto da fé em seu trabalho: ela contribuía para o sucesso? Como afetava o comportamento? Ainda que estejamos apenas começando nossa análise, percebemos que as crenças religiosas têm um papel em seus trabalhos. A tendência de líderes de negócios pode ser de ignorar, desconsiderar ou desencorajar a religião no escritório. Mas essa atitude pode significar deixar escapar uma fonte significativa de engajamento e dedicação do funcionário. O desafio é aproveitar a espiritualidade das pessoas, sem excluir ninguém.
Entrevista de Alison Beard
Mitchell J. Neubert é o presidente da Chavanne de Ética Cristã nos Negócios e professor de administração e empreendedorismo na Universidade de Baylor.