Muitos especialistas já estudaram o fenômeno da classe média, mas ainda não há consenso sobre o conceito e a definição desse estrato da população, que segundo estimativas pode atingir 30% da população global em 2030, isto é, 2 bilhões de pessoas (considerando uma população total de 8 bilhões). “A identificação e a definição de classe média podem auxiliar na formulação de políticas públicas que visam ao desenvolvimento”, analisa Michael Maclennan, pesquisador do IPC-IG e editor da Poverty in Focus.
Nos últimos anos o debate em torno da classe média de países emergentes tem atraído muita atenção, principalmente dos países do BRICS. (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O aumento da classe média nesses países é atribuído à significativa redução da pobreza. Jorge Chediek, representante residente do PNUD, coordenador do Sistema ONU no Brasil e Diretor do IPC-IG, enfatiza que os estudos acadêmicos sobre a classe média realizados no Brasil devem servir de exemplo para os outros países em desenvolvimento, para que possamos alcançar “um mundo todo de classe média”.
Alguns estudos definem a classe média como uma parcela da população que superou a pobreza, isto é, tornou-se menos vulnerável a cair na pobreza, mas que ainda demanda políticas que possam aumentar a sua segurança econômica.
Estima-se que, entre 2003 e 2011, 40 milhões de brasileiros ingressaram na classe média (cerca da população total da Argentina). Ele argumenta que a combinação de programas sociais de transferência de renda e uma melhor inserção no mercado de trabalho dos brasileiros, com o aumento do emprego formal e dos salários são responsáveis pelo crescimento da renda média per capita, o que sugere que a classe média brasileira cresce de forma sustentada.
Na Conferência em Davos 2014, a China estimou a entrada de 300 milhões e a India relatou 140 milhões de novos integrantes da classe média. O Brasil. O Ipea estima que são 42 milhões de brasileiros.
A nova classe média foi dividida entre a baixa classe média, com renda per capita entre R$ 300 a R$ 440; classe média, com ganho entre R$ 440 a R$ 640; e classe média alta, com rendimento entre R$ R$ 640 a R$ 1.020. Atualmente, esse universo representa 54% da população do país. Em 2001, o percentual da população que se encaixava nesse perfil era de 38%. Em 1985, os gastos sociais representavam algo em torno de 13,5% do PIB. Hoje, giram em 23% do PIB.
Um estudo detalhado sobre os ganhos e os gastos das classes C, D e E trouxe um dado novo sobre a classe C, considerada a nova classe média do País: a renda dessa parcela da população não é tão estável quanto se pensa. Na verdade, tanto o valor quanto as fontes de rendimento tendem a mudar, às vezes drasticamente, mês a mês. “Podemos dizer que a classe C é classe média quando dá”, diz Luciana Aguiar, sócia diretora da Plano CDE, consultoria especializada em baixa renda, responsável pelo estudo.
O orçamento de todas as famílias pesquisadas variou ao longo dos seis meses. Uma delas atravessou quase todas as classes. Foi pobre, vulnerável, passou três vezes pela classe C e, por fim, entrou na B. Segundo Luciana, isso ocorre porque apenas uma parte da renda é certa – e nem sempre por causa de um emprego com carteira assinada. Aposentadoria, pensão, bolsa família, bolsa carioca e outros benefícios sociais, muitas vezes, são a única parcela fixa da renda. O restante – que não raro responde pela maior parcela do ganho – é coberto por bicos e atividades paralelas, como venda de cosméticos ou fazer salgados para fora.
O geoestrategista Parag Khanna, braço direito de Barack Obama em política internacional durante a campanha de 2008, defende:
Brics é só uma jogada de marketing, não um conceito analítico. Todos os Brics são Segundo Mundo, mas assim também são outros 90 países. Há 200 países no mundo hoje. Apenas 32 são considerados Primeiro Mundo, membros da OCDE, enquanto 48 são os “países subdesenvolvidos”. Isso deixa mais de cem países na encruzilhada. São Primeiro Mundo (modernos, desenvolvidos, conectados) e ao mesmo tempo Terceiro Mundo (pobres, marginalizados, desconectados). Assim, a maioria é Segundo Mundo. É um conceito econômico, geopolítico e social que descreve nossa condição global com muito mais precisão que os Brics. Dediquei o capítulo mais longo do livro O Segundo Mundo ao Brasil precisamente porque o país exibe muitas dessas características. O Brasil nunca será totalmente Primeiro Mundo, considerando sua imensa e dispersa população e sua geografia difícil. Mas é altamente urbanizado, então há grande potencial para melhorar a vida de milhões de brasileiros, investindo em suas cidades.
Quanto ao desempenho da Petrobras, Khanna é claro: Quanto mais responsabilidades uma companhia tem, mais eficiente e transparente deve ser. Especialmente a Petrobrás, que está carregando nas costas o peso do Brasil. A Petrobrás deve se concentrar em restaurar a produtividade, ser bem administrada, investindo em infraestrutura moderna e em tecnologia, apoiando assim o desenvolvimento do Estado. É uma indústria estatal, mas ao mesmo tempo tem obrigações com os acionistas que esperam e merecem um desempenho melhor. Acima de tudo, o povo brasileiro merece um desempenho melhor.
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Após a realização das pedaladas fiscais desde 2012, o governo conseguiu sua reeleição. Porém, deixou a conta dos avanços sociais para o biênio 2015-2016. É muita notícia ruim de todos os lados: juros altos, inflação, desemprego. Governos de esquerda preferem esse ciclo pois garantem um embate entre trabalhadores e empresários.
O Brasil está passando por um momento de oportunidade. As mudanças de ética nos negócios e na gestão pública estão enfrentando um choque. Empresas exportadoras podem se beneficiar com o dólar alto. As ONGs atuantes no Brasil podem ser mais utilizadas para oferecer oportunidades para jovens e idosos dispostos a trabalhar.
O próximo governo terá muita dificuldade de avançar mudanças estruturais pois as contratações de servidores foram distorcidas pelo domínio das Áreas de Recursos Humanos pelos Sindicatos.
O Instituto Paracleto, desde abril de 2011, está realizando pesquisas sociais e possui parcerias com Agências missionárias para capacitação e mobilização de recursos.