No meu livro Missão da Igreja: dimensões e efeitos[1] comento sobre a narrativa da pregação ao eunuco etíope, quando o evangelista Filipe se aproxima (martyria) e explica as Escrituras (kerygma), o que resulta no batismo do eunuco (leitourgia) e sua inclusão na igreja (koinonia).
No envio dos 70, em Lucas, Jesus sublinha o risco da missão na medida em que descreve os discípulos que estão sendo enviados como “cordeiros enviados para o meio de lobos” (martyria), e eles são proibidos de levar qualquer coisa consigo. Devem desejar paz à casa onde entrarem, comer qualquer alimento que lhes for servido (koinonia), curar os doentes (diakonia) e, somente então, proclamar que “o reino de Deus está próximo” (kerygma).
As dimensões leitourgia e kerygma combinadas produzem elementos essenciais para a conversão. Igrejas que sabem utilizá-las com qualidade e quantidade produzem muitas conversões e manifestação do poder de Deus. A adoração congregacional pode ajudar muitas pessoas a encontrar uma proximidade maior com Deus. Ocorre que somos tentados em fazer sempre a nossa festa particular. Por exemplo, em I Coríntios 14:23, Paulo ordena que a manifestação em línguas estranhas deve ser refreada na adoração pública. A adoração precisa ser adequada quando não crentes estão presentes.
Um dos exemplos notáveis foi a utilização de pandeiro entre os instrumentos musicais das igrejas pentecostais históricas. Certamente, o ritmo musical dos hinos ajudou a estabelecer uma aproximação cultural com a população da periferia das cidades. É bom lembrar que muitas igrejas tradicionais evitaram o uso de guitarras e bateria até os anos 80.
A organização das milhares de igrejas Assembléia de Deus reconhecia quase todos os dons ministeriais, à exceção do apóstolo: o pastor, o evangelista, o professor e o profeta. Essa organização providenciou grande dinâmica ministerial. O resultado foi uma explosão de crescimento.
Uma pequena pesquisa realizada por um professor do Seminário Batista de Brasília ressaltou a necessidade de exposição bíblica na pregação. A questão que os alunos deveriam responder foi: qual era a opinião que os membros das igrejas faziam das mensagens que seus pastores pregavam? As opiniões foram as seguintes:
- eles lêem, mas não explicam a Bíblia;
- não aplicam os ensinamentos bíblicos às vidas dos membros;
- dão mais atenção aos negócios da igreja do que ao crescimento espiritual dos membros.
Para Russell Shedd, autor do artigo “Pregue a Palavra”, o remédio mais eficaz para estas omissões da parte de alguns dos pastores depende de três passos:
- exegese cuidadosa do texto;
- busca e desenvolvimento textual do ensinamento central da passagem bíblica;
- Uma vez concluído este trabalho básico, organize uma aplicação o ensinamento às vidas dos ouvintes.
No final dos anos 60, uma importante mudança paradigmática no campo da Homilética começou a ganhar força buscou resgatar para dentro da pregação cristã teorias indutivas e narrativas, constituindo o que passou a se chamar de Nova Homilética. O modelo homilético que Fred Craddock compilou, conhecido como pregação indutiva, tem por objetivo principal convidar as pessoas ouvintes a tomar parte no desenrolar da prédica e permitir que haja espaço para que cheguem às suas próprias conclusões. No coração da proposta de Craddock está a convicção de que, sendo comunicação oral, a prédica pertence a todas as pessoas que a ouvem. Craddock chega a afirmar que a Palavra de Deus não está localizada nas páginas [da Bíblia] nem nos lábios [de quem prega], mas nos ouvidos [de quem ouve].
Em As One Without Authority, Craddock[2] deu um puxão de orelhas bem grande em seus colegas pregadores, homilistas e líderes eclesiásticos da América do Norte. Para ele, sabe-se sobre o que pregar, mas se dá pouca ou nenhuma atenção ao como pregar. Esse divórcio entre forma e conteúdo na prédica era fatal, porque falhava em não reconhecer a teologia implícita no método de comunicação9. Craddock propunha veementemente que forma e conteúdo são inseparáveis na prédica, porque como se prega é, em grande parte, o que se prega. Ele afirmava novamente que, enquanto a Cristandade concentrou sua atenção no quê” da fé, ela esqueceu completamente o como, e esse fato apontava para certo desrespeito para com as comunidades ouvintes, entendidas como meras receptoras passivas de uma mensagem.
O gráfico abaixo revela a incidência de palavras-chave durante as pregações em uma igreja evangélica, durante o período de seis meses, na cidade do Rio de Janeiro.
Utilizando a ferramenta online da IBM, no site ManyEyes, tabulamos as principais palavras-chave coletadas durante as pregações proclamadas em uma igreja evangélica no período de 6 meses. O resultado foi formatado em formato de nuvem, plotando as palavras de modo proporcional à quantidade de citações. Quanto maior o número de citações, maior será o tamanho da palavra na nuvem:
[1] Missão da Igreja: dimensões e efeitos, Jair Walter – Above Publicações
[2] As One Without Authority, Fred Craddock – Chalice Press
Republicou isso em Blog Paracletoe comentado:
O modelo de sermão ensinado em nossos Seminários precisa sofrer uma urgente adaptação aos ouvintes mais estressados de nossas congregações. Ocorre que muitas pregações são repetidas ou padronizadas, despertando pouco interesse na assistência.
Nossas pesquisas mostram que o povo tem sede da Palavra de Deus mas para resolver seus problemas diários e desafios na família. Pregadores eficientes conseguem conduzir sua audiência para aplicar os Princípios da Bíblia e transportar seus discípulos para o desejo de realizar a missão que Deus tem para cada um de nós. Eles conseguem realizar a dupla tarefa de ensinar e comunicar em tempo suficiente, de forma relevante e coerente com suas vidas ministeriais.