Quando o ministro de Energia do Peru estava procurando por um modelo de “nível mundial” para usar como referência para a estatal Petroperu –em vias de privatização– ele olhou para a Colômbia, e não para o Brasil. Isso não deveria surpreender, e sim, envergonhar os brasileiros.

Desde que uma pequena fatia das ações começou a ser negociada em bolsa em 2007, as ações da Ecopetrol, empresa de petróleo estatal colombiana, superaram as da Petrobras, sua equivalente brasileira, em 200%.

Pemex+Petroperu---EcopetrolEsses tem sido anos tristes para aqueles que veem os mercados de energia da América Latina pelas lentes da Petrobras. Metade das empresas de petróleo do mundo parecem ter uma participação nos campos do pré-sal, e a Petrobras produz 95% do petróleo e do gás brasileiros. A empresa também reviu metas de produção ao longo dos anos: planeja produzir 4,2 milhões de barris por dia até 2020, sendo que há dois anos, a meta para a data era de 5 milhões de barris.

A Petrobras está sobrecarregada. De fato, seu plano de negócios 2013-2017 é mais realista do que os anteriores, e o recente leilão de Libra atraiu pouca atenção de estrangeiros. Mas os investimentos de US$ 237 bi planejados para 2017 ainda parecem muito ambiciosos.

A Petrobras vai precisar de mais ajuda para desenvolver os enormes recursos brasileiros do que o governo parece disposto a conceder. Isso é uma pena –e algo contraproducente também, considerando o papel da companhia no desenvolvimento brasileiro.

Em relatório recente, a corretora XP Investimentos observa que a empresa enfrenta um grave dilema: “Quanto mais petróleo eu encontro, menos caixa terei”, ironiza.

Programas de cortes de custos e de aumento de eficiência foram implantados, mas manutenção de investimentos em áreas como etanol, biodiesel, água no Nordeste e outras fora do seu negócio principal minam as iniciativas da empresa, critica Pedro Galdi, economista-chefe da SLW Corretora.

“O lado bom da Graça é que entende do setor, não vai comprar refinarias mais caras do que valem, por exemplo, mas não tem força para lutar contra a ‘venezuelização’ da Petrobras”, disse Galdi em referência à estatal da Venezuela PDVSA. A PDVSA atua em vários setores de acordo com a necessidade do governo e mantém os preços congelados.

Por e-mail, a Petrobras afirma que a dívida está crescendo devido a investimentos que “em breve” farão a produção aumentar. “Conforme as obras são concluídas, cresce a produção e, consequentemente, a receita, revertendo a trajetória dos indicadores de endividamento e alavancagem.”

Um dos principais índices observados pelo mercado, que mede a alavancagem (relação da dívida com a geração de caixa), dobrou na gestão de Graça. Ele passou de 1,66 vez em fevereiro de 2012 para 3,05 vezes no terceiro trimestre de 2013.

A dívida subiu de R$ 103 bilhões em fevereiro de 2012 para R$ 192,9 bilhões em outubro de 2013. Uma das maiores críticas do mercado é que a Petrobras se endividou, mas nenhuma gota a mais de petróleo foi produzida. Ao contrário. Desde fevereiro de 2012 houve uma queda de 6,6% na produção.

“Quando vemos as projeções da empresa, percebe-se que ela [Graça] conseguiu fazer muito pouco. O ponto positivo foi menor ingerência político partidária [cargos ocupados por partidos políticos], mas a do governo permaneceu”, diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.