O salafismo, uma seita sunita radical influenciada pelo wahhabismo (movimento religioso ultraconservador muçulmano) saudita, foi empurrado para a clandestinidade pelo regime autoritário de Mubarak. Desde a revolução de 2011, seus integrantes se organizaram politicamente, e procuraram e receberam mais de um quarto dos votos nas eleições parlamentares do ano passado, sendo superados apenas pela Irmandade Muçulmana.

O Islã xiita tem um longo histórico no Egito. Cairo foi fundada em 969 pela dinastia xiita Fatimí, que governou o Egito durante 200 anos e modelou sua identidade. Inclusive atualmente, os sunitas egípcios visitam reverenciados santuários xiitas, como El-Hussein e Sayeda Zeinab, e incorporam naturalmente práticas xiitas às suas tradições e aos seus ritos funerários. “Não se pode distinguir rapidamente os sunitas dos xiitas por seu comportamento”, afirmou El-Nafis. “As diferenças entre as duas seitas islâmicas são fabricadas e exageradas por motivos puramente políticos”, ressaltou.

Para evitar as perseguições, muitos xiitas praticam sua fé sob o guarda-chuva do sufismo, uma variedade mística do Islã que compartilha a veneração xiita pelos Ahl Al-Beyt, a família do profeta Maomé. “Nós, xiitas, ainda não podemos nos reunir abertamente como grupo”, contou El-Nafis. “Se eu visito um xiita em sua casa, os salafistas dirão que estamos fazendo uma ‘hussineya’ (casa de rezas xiitas), e se vou a uma mesquita com outro xiita, seguramente seremos hostilizados”, explicou.

Em dezembro de 2011, as forças de segurança impediram que centenas de xiitas assistissem as celebrações religiosas de Ashura, na mesquita de El-Hussein, local sagrado para estes fiéis no Cairo. A polícia retirou à força da mesquita só fiéis xiitas, depois que grupos salafistas os acusaram de praticar ritos “brutais”. E, mesmo quando estão sozinhos, os xiitas enfrentam a intolerância e um sistema legal que, segundo organizações de direitos humanos, viola os princípios da liberdade religiosa.

Em julho de 2012, um tribunal condenou Mohammad Asfour, um egípcio xiita convertido, a um ano de prisão por “profanar um lugar de culto” e “insultar os discípulos do profeta”. Os promotores disseram que Asfour foi pego colocando uma pedra debaixo de sua cabeça enquanto rezava na mesquita de uma aldeia, prática malv ista pelos muçulmanos xiitas. A prisão ocorreu após três semanas de abusos, depois que os aldeões souberam que Asfour havia se convertido ao Islã xiita. Sua conversão provocou a hostilidade de vizinhos e familiares de sua esposa sunita, que o pressionaram para se divorciar.

“O Egito é um país sunita e devemos proteger a sociedade da influência xiita”, afirmou Khaled Fahmi, comerciante têxtil de Cairo que acusa o Irã de “usar agentes pagos” para realizarem proselitismo. “Os egípcios pobres e analfabetos são facilmente enganados por suas mentiras”, argumentou. Como muitos egípcios sunitas, Fahmi está indignado com a vacilante abertura do governo quanto a aproximar-se do Irã.

O Papa copta, Teodoro II, acusou o presidente do Egito, Mohammad Morsi, de não agir para coibir os ataques contra os cristãos egípcios. Embora os coptas estivessem longe de viver bem nos anos da ditadura de Hosni Mubarak, o cenário se deteriorou acentuadamente desde a chegada da Irmandade Muçulmana ao poder no Cairo com o crescimento de casos de violência contra os seguidores do cristianismo no país.

Os coptas correspondem a cerca de 10% da população do Egito, majoritariamente muçulmano sunita – praticamente não há xiitas no país. Entre os cristãos, nove em cada dez segue o braço oriental dos coptas, tendo Teodoro II como Papa, enquanto um décimo aceita a autoridade do Vaticano.

“Mursi prometeu fazer todo o possível para proteger a catedral, mas não é o que estamos vendo”, declarou Tawadros II, entrevistado por telefone em um programa do canal ONTV. “Isto reflete negligência e uma falta de avaliação dos acontecimentos”, disse o patriarca. “É um ataque flagrante contra um símbolo nacional, a Igreja do Egito, de uma gravidade sem precedentes em 2000 anos de história da cristandade no Egito”, completou.

Vale lembrar que as ações contra os cristãos no Egito são cometidas por alas extremistas, ligadas aos salafistas e à Irmandade Muçulmana. Enorme parcela da população egípcia, religiosa ou secular, condena duramente os ataques aos coptas e não se sente representada pelo presidente Morsi, como podemos ver em constantes protestos no Cairo e outras cidades. O presidente dos EUA, Barack Obama, assim como seus aliados europeus, se mantém calado diante dos ataques aos cristãos na Primavera Árabe. O país que mais se posiciona em defesa do cristianismo tem sido a Rússia em razão da igreja ortodoxa ser o elo de ligação com Síria e Egito.

Mursi visitou o Brasil para encontros com autoridades, empresários e representantes da comunidade de língua árabe. O objetivo da visita é incrementar o comércio bilateral e conhecer os programas brasileiros de transferência de renda. De 2002 a 2012, o volume de comércio entre Brasil e Egito cresceu sete vezes, evoluindo de US$ 410 milhões para US$ 2,96 bilhões. Nos últimos dois anos, o fluxo comercial bilateral cresceu 38%. Empresas brasileiras informam que têm interesse em investimentos em obras de infraestrutura de energia e transportes no Egito, além das oportunidades oferecidas pelo maior mercado consumidor do mundo árabe.

A visita de Mursi ao Brasil é a última etapa das viagens do presidente egípcio aos integrantes do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na visita ao Brasil, Mursi deve defender o interesse de o Egito fazer parte do grupo de países emergentes. A próxima Cúpula do Brics será no Brasil, em 2014. Autoridades egípcias informaram que Mursi quer ampliar a cooperação comercial, econômica e industrial, além de atrair mais investimentos brasileiros para o Egito.

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