Não é exagero: as mães brasileiras estão entre as mais preocupadas do mundo – 65% delas reconhecem que, por causa de suas próprias ansiedades, não deixam os filhos brincar fora de casa. Elas só perdem em aflição para as mães turcas (83%), de acordo com uma pesquisa da Unilever, gerenciada pela inglesa StrategyOne, feita com 1 500 mães de meninos e meninas de 1 a 12 anos, de dez países – de Estados Unidos, Inglaterra e França a Turquia, Índia e Tailândia. Do temor de seqüestros e assaltos ao simples medo de o filho se machucar, as brincadeiras ao ar livre são um tormento para as mães brasileiras. Mas elas vivem um dilema: embora evitem que seus filhos brinquem fora de casa, reconhecem que o contato com outras crianças, as atividades na rua e a independência são fundamentais para o crescimento saudável deles. Segundo o levantamento, sete em cada dez se preocupam com o fato de que os pequenos passam muito pouco tempo brincando fora. “A criança está sendo privada da oportunidade de brincar, de se divertir, de aprender a partir da própria curiosidade”, escreveram os autores do estudo, o professor de psicologia Jerome Singer e a pesquisadora Dorothy Singer, ambos da Universidade Yale, nos Estados Unidos.
Penso que os Governos poderiam implementar políticas para maior proteção da família, em especial da relação da mãe trabalhadora com seus filhos. O Congresso poderia votar uma lei que permitisse a empregada optar por uma jornada reduzida durante o período até que seus filhos atingissem 2 (dois) anos de idade. Isso poderia permitir uma maior relação entre mãe e filhos além de remover a pressão pela construção de creches municipais.
A insegurança das mães brasileiras, bem acima da média global, que é de 48%, é compreensível. Brasil, África do Sul e Índia estão entre os dez países com as mais altas taxas de seqüestro. Nas principais capitais brasileiras, onde o índice de furtos, roubos e assassinatos é altíssimo, a conseqüência mais evidente é o pânico da exposição. Mas há um limite de razoabilidade para esse tipo de preocupação. Pais excessivamente protetores geram crianças ansiosas e inseguras. Não se trata, obviamente, de deixar os pequenos soltos na rua, sem nenhuma supervisão. O problema hoje é que muitos pais, sob o argumento de que o mundo é extremamente violento, nem mais permitem a seus filhos atravessar a rua sozinhos ou andar de ônibus. “A criança precisa enfrentar a vida, com todas as suas vicissitudes. Do contrário, corre o risco de ficar extremamente dependente”, diz a psicopedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O mesmo vale para o temor generalizado de que as crianças se machuquem quando brincam fora de casa. Convenhamos, afastá-las do risco ou optar pelo playground com piso emborrachado não as estimula a se defender dos perigos. “Eliminar do desenvolvimento infantil a brincadeira livre e descompromissada prejudica o desenvolvimento físico e intelectual dessas crianças”, afirma Maria Angela.
Porque seus filhos brincam menos, uma em cada seis mães tem receio de que as crianças de hoje sejam privadas de sua infância. No Brasil, 86% das mães têm essa preocupação. “Embora eu tenha tido uma infância bastante diferente e livre, no interior de São Paulo, não deixo minhas filhas brincarem na rua”, conta a empresária Neusinha Farina, de 36 anos, mãe de três meninas de 10, 8 e 3 anos. “Prefiro os parques fechados, onde elas ficam mais seguras. É a realidade delas”, afirma. Há ainda outro tipo de preocupação materna que também ajudou a alçar as brasileiras às posições de liderança: o medo de o filho adoecer, contraindo vírus e bactérias pela convivência com outras crianças. E eis aqui um contra-senso. Cerca de 70% das brasileiras ouvidas consideram que sujar-se e entrar em contato com vermes é uma experiência valiosa para os pequenos. Ainda assim, elas evitam os espaços públicos. Brincar com terra, areia e água, ao contrário do que muitas mães imaginam, torna o sistema imunológico das crianças mais resistente. Além disso, como bem reconhecem as mães entrevistadas nesta pesquisa, brincar em parques e praças é a atividade que melhor proporciona a formação de vínculos com o filho.
Muitas gostariam que seus filhos brincassem mais, outras não deixam as crianças brincar ao livre por insegurança. Todas concordam que os pequenos são mais felizes quando brincam. Os psicólogos Jerome e Dorothy Singer, professores faculdade de psicologia da Universidade Yale (Estados Unidos), coordenaram o estudo, chamado “Dar aos nossos Filhos o Direito de Serem Crianças”:
– 79% das mães de todo o mundo concordam que as pessoas em seus países esqueceram a importância de aprender por meio do brincar
– 63% têm receio da que as crianças sejam privadas de sua infância
– 73% das brasileiras acha que o filho passa pouco tempo brincando fora de casa
– 66% das crianças brasileiras brincam ao ar livre – a média mundial é de 60%
– 94% acham que brincar é importante para a saúde. O benefício de aprendizado mais reconhecido é o desenvolvimento de habilidades sociais (40%)
– 65% fazem relação entre falta de tempo para brincar e falta de capacidade para formar relacionamentos
– Ver televisão é o que 71% das crianças no mundo e 82% das brasileiras mais fazem
– 75% queriam quer tivesse mais tempo para interagir com outras crianças
– 77% se preocupa com o fato de que os filhos estão crescendo rápido demais atualmente