Tudo o que se pode esperar da escolha do sucessor de Bento XVI é o fim de um Vaticano eurocêntrico. Desde que Karol Wojtyla tornou-se João Paulo II, a Europa é o centro das atenções da Cúria. O Papa polonês cumpriu uma fenomenal missão histórica ajudando a desmontar décadas de tolerância com as ditaduras comunistas. Seu sucessor teve um pontificado medíocre enrolado pela tolerância com escândalos sexuais e financeiros de sacerdotes. Um deles passou de raspão pelo Brasil, num trambique do namorado da atriz Anne Hathaway, sócio do sobrinho do atual decano do Colégio de Cardeais, o poderoso ex-secretário de Estado Angelo Sodano. A moça micou em US$ 135 mil e o rapaz foi preso nos Estados Unidos.

cardeais eleitoresAs dificuldades do Vaticano com suas finanças são antigas. Foi Pio IX quem avisou: “Posso ser infalível, mas estou falido.” Já os desempenhos sexuais de alguns sacerdotes, mesmo sendo coisa antiga, tornaram-se uma encrenca recente, com a qual João Paulo II e Bento XVI nunca conseguiram lidar direito, envenenando a missão pastoral de dioceses europeias e americanas.

O Pontifício Conselho do Vaticano “Justiça e Paz”, presidido pelo Cardeal Peter Turkson, propôs no final de 2011, a criação de uma autoridade política mundial e um banco central mundial para promover “mercados livres e estável, disciplinado por um quadro jurídico adequado” vs a atual crise financeira e econômica. Por razões estratégicas, Gana é um país, da África subsaariana, bastante estratégico para a contenção do avanço islâmico do norte para o sul. Gana se tornou independente em 1957. Recentemente, Kofi Annan, um ganense, se tornou o primeiro Secretário Geral da Nações Unidas. Por estas razões, Peter Tuckson é o meu favorito para a sucessão de Bento XVI.

Durante o pontificado de Paulo VI, o Brasil passou de dois para oito cardeais. Hoje tem cinco. Bento XVI deixou sem cardeais as arquidioceses do Rio e de Brasília. Porto Alegre teve cardeal e está sem. Recife, a primeira sé cardinalícia brasileira, está na segunda divisão desde os anos 60, quando a ditadura hostilizava D. Helder Câmara e não queria vê-lo cardeal. Se foi econômico com os barretes brasileiros, Bento XVI foi generoso aspergindo-os pela Europa. Elevou a diocese de Valencia (800 mil habitantes), na Espanha, mas não confirmou o barrete de Porto Alegre (1,5 milhão de habitantes).

Quem especular o nome do sucessor de Ratzinger pode jogar cara ou coroa. Nos seis últimos conclaves elegeram-se três favoritos (Ratzinger, Paulo VI e Pio XII) e três azarões (João Paulo II, João Paulo I e João XXIII, que mal cabia nas vestes preparadas pelos alfaiates que trabalharam durante o conclave.)

Pode-se esperar que, depois de um Papa saído da academia de teólogos e da burocracia de Roma, venha um pastor, como os dois João Paulo e João XXIII. Um administrador de diocese do Terceiro Mundo uniria o útil ao agradável. É assim que entra nas listas, com um sopro romano, o cardeal de São Paulo, D. Odilo Scherer, pastor de uma das maiores arquidioceses do mundo. Aos 63 anos, teria um longo pontificado. Ele tem uma característica anfíbia. É brasileiro, mas, como quatro outros cardeais brasileiros (Claudio Hummes, Paulo Evaristo Arns, Aloisio Lorscheider e Vicente Scherer, seu parente distante), descende da imigração alemã. A mola mestra da eleição dos dois últimos papas foi a capacidade de articulação da hierarquia alemã.

Conclave Papa 2013