A discussão é antiga sobre a proibição do amianto na exploração e fabricação de produtos no Brasil. Parece que o risco é inegável mas, de certa forma, exagerado. Algumas empresas, cidades e estados brasileiros já proibiram a utilização do amianto.Na Petrobras, tivemos dificuldade (mas conseguimos) para adequar as tabelas de juntas de amianto antigas, especificadas para as antigas Unidades Industriais, para materiais mais seguros, nem tanto confiáveis (testados) e mais custosos.
O problema é que a substância está dispersa e presente em diversas utilizações da vida moderna. A disputa pelo uso de novos produtos e o pagamento por suas patentes traz influência nesta discussão entre países em desenvolvimento com mineral barato e consumo em expansão contra países com alta tecnologia e baixo consumo.
Um estudo inédito realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre o banimento do amianto na construção civil brasileira e seu impacto econômico, mostra que o país está preparado para substituir esse mineral, banido em quase 60 países e considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde, que sugere o uso de materiais alternativos. Intitulado “Avaliação do Impacto Econômico da Proibição do Uso do Amianto na Construção Civil no Brasil”, o trabalho é o primeiro realizado por uma universidade brasileira e tem como objetivo apresentar aspectos técnicos e comerciais sobre o impacto do amianto, desde sua extração, passando pela cadeia de transformação, comércio e transporte.
Realizado pelos professores Ana Lucia Gonçalves Silva e Carlos Raul Etulain, e com convênio de cooperação técnica da Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Fibrocimento (Abifibro), o trabalho da Unicamp reconhece que o amianto de qualquer espécie é cancerígeno. O estudo aborda a história do amianto no Brasil e retrata o panorama econômico em torno do mineral – produção nacional (Brasil está entre os maiores do mundo), consumo aparente, comércio exterior, indústrias que utilizam o mineral, entre outras informações.
O estudo também fala sobre a lei federal brasileira que dita o uso controlado do amianto e dos estados e municípios que atuam com legislação própria de banimento do mineral. Também reconhece que o Brasil já conta com tecnologia e insumos eficientes e recomendados para a substituição do amianto em suas aplicações como no fibrocimento. Diante deste cenário, a Unicamp atesta que o Brasil deve fazer parte, como um país em busca do desenvolvimento sustentável, da lista de países que baniram o amianto de suas atividades produtivas.
Outros países da América Latina baniram o uso do amianto no início do nosso século, como foi o caso do Chile e da Argentina em 2001, do Uruguai em 2002 e de Honduras em 2004. O Brasil pode ser o primeiro país do BRIC a posicionar-se contra o material.
A Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Fibrocimento (Abifibro), que acompanhou e contribuiu com informações para a realização desse estudo, trabalha para que o Brasil cumpra seu compromisso do banimento do uso dessa fibra, conforme disposto na convenção 162 da Organização Internacional do trabalho (OIT), da qual o é signatário. “Cada vez mais o mundo pede por atitudes sustentáveis, tanto do poder público, quanto do privado e o Brasil, que tem ganhado cada dia mais projeção internacional, seja por sua atuação econômica, seja em função de inovação e tecnologia, não pode ficar fora disso”, afirma o presidente da Abifibro, João Carlos Duarte Paes.
Para ler o estudo na íntegra, clique aqui.
Para que serve o amianto?
O amianto é resistente ao calor e ao fogo. Além disso, o material é resistente e barato, por isso pode ser usado de diversas formas. Ele pode ser misturado ao cimento para fabricação de tetos e pisos. Também é utilizado em canos, tetos, freios, entre outros.
O amianto é perigoso?
Fragmentos microscópicos de fibras de amianto são potencialmente perigosos quando inalados e podem provocar doenças respiratórias:
- Câncer de pulmão, que é o mais comum em pessoas expostas ao amianto;
- Mesotelioma, uma forma de câncer no peito que praticamente só ocorre em pessoas expostas ao amianto;
- Asbestose, uma doença que causa falta de ar e pode levar a problemas respiratórios mais graves.
Onde o amianto é usado?
Em países da União Europeia, na Austrália e em mais de 20 países, o amianto branco é proibido. Ele é limitado a quantidades pequenas nos Estados Unidos e no Canadá. Os maiores consumidores são China, Índia e Rússia. Os maiores exportadores são Rússia, Cazaquistão, Brasil e Canadá.
E no Brasil?O amianto é amplamente produzido e usado no Brasil, apesar de alguns esforços isolados para se banir a substância. O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de amianto, que é vendido para países como Colômbia e México. O país também é o quinto maior consumidor do produto. As 11 empresas que trabalham com o produto empregam mais de 3,5 mil pessoas diretamente e movimentam R$ 2,5 bilhões por ano.
O amianto pode ser usado de forma segura?
Alguns especialistas afirmam que o amianto branco traz menos risco à saúde do que o amianto azul e marrom, mas mesmo empresas que vendem a substância dizem que os trabalhadores devem evitar inalar o ar com o produto. Nos Estados Unidos, as fábricas precisam se certificar de que existe menos de 0,1 partículas de amianto por centímetro cúbico de ar.
Como os trabalhadores podem se proteger?
Eles podem usar roupas protetoras e máscaras para respiração. Outra medida é reduzir o nível de poeira nas fábricas com ventiladores, aspiradores e água, mantendo o ambiente mais úmido.
Familiares de trabalhadores também correm risco?O maior grupo de risco são os trabalhadores expostos por muito tempo. No entanto, há casos de esposas que morreram de doenças relacionadas ao amianto por manejarem as roupas sujas do marido. Filhos de trabalhadores também já morreram pelo mesmo motivo.
Quanto tempo leva para que se contraia uma doença relacionada ao amianto?A asbestose pode surgir em uma década após exposição inicial ao amianto, mas em muitos casos ela demora ainda mais. O mesotelioma pode surgir em 30, 40 ou até 50 anos após a exposição. Médicos dizem que pacientes diagnosticados com mesotelioma tem menos de cinco anos de expectativa de vida.
A pressão de grandes grupos econômicos, que fazem do Brasil um dos maiores produtores mundiais de amianto, é apontada como um dos principais motivos para que o uso desse mineral ainda seja permitido no país.
A avaliação é de Guilherme Franco Netto, diretor de saúde ambiental do Ministério da Saúde e especialista em saúde pública. Segundo ele, “questões econômicas” favorecem a produção e o consumo de amianto no mercado brasileiro.“Nosso trabalho tem sido o de mostrar ao mercado e a setores do governo o mal que essa substância pode causar à saúde das pessoas. Mas sabemos que existe uma tensão nesse debate, já que o Brasil é um grande produtor mundial”, disse o especialista em entrevista ao programa Business Daily, da BBC.