Em recente palestra, o pr. Altomir Cunha alertou os jovens de sua audiência para tomar o devido cuidado com uma viagem de estudos ao exterior sem a devida preparação e proteção da integridade espiritual. O Programa Fantástico da TV Globo fez reportagem sobre a casa de Gilberto Freyre que funciona como museu, como sendo lugar de assombrações. Sua família revelou que ele procurava encontrar a entidade que sua nora garantia ter visto. O que Gilberto Freyre fez de sua vida?
Nascido em Recife, em 15 de março de 1900, Gilberto Freyre, filho do Dr. Alfredo Freyre — educador, conhecido humanista recifense, juiz de Direito e catedrático de Economia Política da Faculdade de Direito do Recife — e de D. Francisca de Mello Freyre.
Influenciado pelos mestres, entre os quais o missionário William Carey Taylor, do Colégio Batista Americano de Recife, converte-se ao protestantismo, desagradando a mãe e a família católica. Foi batizado na PIB de Recife, em setembro de 1917. No mesmo ano, concluiu o curso de Bacharel em Ciências e Letras.
Seguiu, no início do ano de 1918, para os Estados Unidos, fixando-se em Waco (Texas) para matricular-se na Universidade de Baylor onde conclui o curso de Bacharel em Artes. Segue, em 1921, na Faculdade de Ciências Políticas (inclusive as Ciências Sociais Judiciais) da Universidade de Colúmbia. Defende, em 1922, tese para o grau de M.A. (Magister Artium ou Master of Arts) na Universidade de Colúmbia intitulada “Social life in Brazil in the middle of the 19th Century”.
Após viajar por diversos países da Europa, retorna ao Brasil em 1924 e reintegra-se no Recife, onde conhece José Lins do Rego, incitando-o a escrever romances, em vez de artigos políticos.
Paulo Sieperski, aponta que no Periódico Tempo de Aprendiz, Freyre criticou o que chamou de superstição do alfabetismo, ou seja, a idéia que a alfabetização generalizada faria bem para uma nação. Criticou o Protestantismo por promover essa necessidade generalizada. Segundo ele, essa superstição teria surgido com a invenção da imprensa e seu uso por Lutero e Calvino. Para Freyre, o mundo seria mais feliz com uma elite intelectual e uma massa de analfabetos, isento da mediocridade dos meio-cultos que nem eram intelectuais criadores nem analfabetos conservadores.
Foi pela UDN que Gilberto seria eleito deputado para a Constituinte de 1946. Sua votação foi impulsionada por um ato de coragem. Em 1945, numa manifestação contra a ditadura de Vargas, o estudante de direito Demócrito de Souza Filho foi assassinado por pistoleiros contratados por políticos, e Freyre não se calou diante da brutalidade – assumiu a liderança da passeata.
Até 1933, ano de publicação de “Casa-Grande & Senzala” e da chegada de Hitler ao poder na Alemanha, era senso comum dizer que o Brasil estava condenado ao atraso por causa da mistura de brancos, negros e índios. Freyre inverte essa noção, ao valorizar a mistura de etnias. Era uma inovação no Brasil, mas não nos EUA, segundo Enrique Larreta. Lá, Randoph Pourne, um ensaísta do círculo da Columbia, havia escrito em 1919 “Transnacional America”, no qual defende que os EUA são superiores à Europa por causa da mistura cultural.
A publicação de “Casa Grande & Senzala“, de Gilberto Freyre, em 1933, acabou se transformando em um marco da cultura brasileira. Para o antropólogo Darcy Ribeiro, trata-se do “mais brasileiro dos livros já escritos”. No entanto, o livro não foi bem aceito por intelectuais conservadores nem pela Igreja Católica, uns incomodados pela defesa da mestiçagem e da herança negra, outros pela descrição da vida sexual na colônia.
“O 1º Congresso Afro-Brasileiro do Recife foi o menos solene dos Congressos. Nele não brilhou um colarinho duro. Não apareceu um fraque. Não trovejou um tribuno. Não houve um só discurso em voz tremida. Foi tudo simples e em voz de conversa”. O depoimento acima foi extraído dos anais do primeiro Congresso Afro-Brasileiro do Recife, realizado em 1934, um ano após a publicação do livro Casa Grande & Senzala. Trata-se do relatório de Gilberto Freyre, organizador do encontro, sobre os dias em que diversas pessoas da sociedade, pela primeira vez, se reuniram para discutir um assunto até então inédito no meio intelectual.
Partidário do movimento político-militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964, passou a integrar, em 1969, o Conselho Federal de Cultura, a convite do presidente general Emílio Médici.
Freyre tornou-se também uma espécie de ideólogo informal do regime pós-64, Segundo Elide Rugai Bastos, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autora de duas teses sobre Freyre, de doutorado e de livre docência. “O pensamento de Gilberto Freyre, a idéia de que o Brasil tem uma história em que os conflitos se harmonizam, vira cultura política e transforma-se em senso comum”, diz Elide. O exemplo mais extremo dessa absorção acontece com a defesa que Freyre fazia da “democracia racial” brasileira.