A consulta de hoje vai na contramão da grande maioria das consultas que recebo. Escreve um ouvinte: “Surgiu uma vaga de coordenador na área em que trabalho. Sem me consultar, o meu gerente me indicou como um dos candidatos a ela, e me disse que eu seria o concorrente mais forte, porque estou há 5 anos na empresa, tenho um relacionamento muito bom com meus colegas e meus resultados têm sido consistentes através dos anos.
Naquela noite, pensei muito sobre o assunto e na manhã seguinte, eu disse ao meu gerente que não quero ser coordenador, prefiro permanecer onde estou, fazendo o que gosto. Expliquei a meu gerente que não me sentiria bem, tendo que dar ordens a pessoas que hoje são meus colegas. E ele propôs que eu fizesse um curso de liderança antes de assumir a função. Mas eu disse para ele que essa não era a questão. A questão é que eu não quero ser chefe.
Meu gerente ficou muito surpreso, e mudou o tom da conversa. Reclamou que iria ficar mal com a direção, porque já tinha me indicado e agora teria que retirar a indicação, além de ter que explicar aos superiores que eu não tenho ambições profissionais. Meus colegas, quando souberam do fato, me disseram que eu perdi o juízo. E essa é a minha pergunta: será que eu perdi o juízo?”
Não. Você é uma ilha de sanidade, num oceano de ambições. Profissionais como você não são tão raros como parece. Existe muita gente que prefere continuar fazendo bem, o que faz.
Acontece que toda a literatura sobre carreiras está centrada nos ambiciosos, e ignora os que não querem escalar o organograma. Isso acaba dando a impressão de que gente como nosso ouvinte, está fora da realidade, quando na verdade, ele é muito realista. Ele certamente tem uma vida fora da empresa. E certamente conseguiu equilibrar as finanças domésticas com o salário que recebe.
Ao decidir que deseja continuar onde está, nosso ouvinte se chocou com o pensamento vigente, de que um profissional deve estar o tempo todo batalhando por uma promoção.
No fundo, nosso ouvinte disse ao gerente que é feliz, e que uma promoção poderia comprometer essa felicidade. O gerente não entendeu porque pensa o contrário. Se não pensasse, dificilmente teria chegado a gerente. Mas, nenhum dos dois está errado. E o nosso ouvinte não sofre de falta de ambição. A ambição dele é ser cada vez melhor, no que faz.
A carência de pessoas preparadas adequadamente para exercer liderança e consequentemente postos de chefia é enorme. Os cursos técnicos e de nível superior, com raras exceções, não ensinam nada de admistração aos seus alunos. Como consequência temos técnicos gerenciando pessoas, sem nenhuma formação e preparo para administrar/gerir. Tudo acontece pelo “sentimento” da coisa, e com isso outras pessoas são prejudicadas e também as organizações.
Excelente contribuição, Kleber. Você tem razão. Um técnico precisa ter um bom gestor para exercer sua função em sua plenitude. O gestor precisa saber colocar as pessoas certas nos lugares certos. Por vezes, o técnico tem características de liderança que o gestor precisa compreender e administrar. É possível que o gestor consiga administrar com o apoio de um líder.