O Instituto Paracleto realizou entre 2015 e 2016 pesquisa para verificar os valores morais e opiniões dos cariocas sobre alguns temas que estão sob discussão na sociedade brasileira com decisões e influências em suas Instituições. Essa é terceira postagem num total de 10 temas avaliados.

3/4 dos cariocas opinaram que liberação do consumo de drogas não deve ser aceito pela sociedade brasileira. As mulheres são ligeiramente mais conservadoras quanto ao tema. A região Norte da cidade é ligeiramente mais liberal do que outras regiões. Todas as faixas etárias rejeitaram a proposta de liberação de modo similar.

Na pesquisa do Datafolha, realizada em 2012, 81% disseram concordar mais que “o uso de drogas deve ser proibido porque toda a sociedade sofre com as consequências” do que “o uso de drogas não deve ser proibido, porque é o usuário que sofre com as consequências”, posição adotada por 17%. A escolha pela proibição do uso de drogas é majoritária mesmo entre os extremo-liberais, mas com índice abaixo da média (57%). O mesmo ocorre no eleitorado liberal (70%).

Drogas

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/UCAM) mostrou resultados expressivos para quem entende que a proibição estimula muito mais a violência do que o consumo de drogas ilícitas.

O levantamento feito com 2 mil pessoas mostrou que 90% dos entrevistados são a favor da descriminalização do uso de drogas. Isto não quer dizer, porém, que o carioca se tornou libertário. Longe disso. A maioria não quer a legalização, mas entende que a criminalização do usuário é mais danosa à sociedade do que o consumo da droga. Este dado, segundo os especialistas, é significativo na luta contra a proibição. 97% acham que, se legalizar uma droga, as pessoas vão consumi-la loucamente. 67% dos entrevistados acreditam que a redução do consumo de drogas está diretamente ligada a mais e melhores campanhas de informação. E apenas 30% acreditam que prisão de usuários e traficantes é a melhor maneira de conter o uso.

As pesquisas na Inglaterra mostram que quase a metade de todos os adolescentes entre 15 e 16 anos já usou uma droga ilegal. Cerca de 1,5 milhão de pessoas usa ecstasy todo fim de semana. Entre os jovens, o uso ilegal da droga é visto como normal. Intensificar a guerra contra as drogas não está reduzindo a demanda.

Em 1978, o objetivo da descriminalização da maconha na Holanda foi diminuir o consumo de drogas pesadas. Supunham os holandeses que a compra aberta tornaria desnecessário recorrer ao traficante, que em geral acaba por oferecer outras drogas. Deu certo em parte. Apenas três em cada 1.000 holandeses fazem uso de drogas pesadas, menos da metade da média da Inglaterra, da Itália e da Dinamarca.

O problema é que Amsterdã, com seus coffee shops, atrai “turistas da droga” dispostos a consumir de tudo, não apenas maconha. Isso fez proliferar o narcotráfico nas ruas do bairro boêmio. O preço da cocaína, da heroína e do ecstasy na capital holandesa está entre os mais baixos da Europa.

“Hoje, a população está descontente com essas medidas liberais, pois elas criaram uma expectativa ingênua de que a legalização manteria os grupos criminosos longe dessas atividades”, disse a VEJA (2008) o criminologista holandês Dirk Korf, da Universidade de Amsterdã.

A experiência holandesa não é a única na Europa. Zurique, na Suíça, também precisou dar marcha a ré na tolerância com as drogas e a prostituição. O bairro de Langstrasse, onde as autoridades toleravam bordéis e o uso aberto de drogas, tornara-se território sob controle do crime organizado.

A prefeitura coibiu o uso público de drogas, impôs regras mais rígidas à prostituição e comprou os prédios dos prostíbulos, transformando-os em imóveis residenciais para estudantes. A reforma atraiu cinemas e bares da moda para o bairro. Em Copenhague, na Dinamarca, as autoridades fecharam o cerco ao Christiania, o bairro ocupado por uma comunidade alternativa desde 1971.

A venda de maconha era feita em feiras ao ar livre e tolerada pelos moradores e autoridades, até que, em 2003, a polícia passou a reprimir o tráfico de drogas no bairro. Em todas essas cidades, a tolerância em relação às drogas e ao crime organizado perdeu a aura de modernidade.

Os resultados, publicados na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), apontam que o coeficiente de inteligência, o famoso QI, sofre uma redução pelo uso contínuo da planta da espécie Cannabis sativa. Adolescentes que fazem uso de maconha estão em maior risco de podem se tornarem adultos menos inteligentes, de acordo com estudo realizado por equipe internacional de pesquisadores. A pesquisa revela que o uso regular e persistente de cannabis pode causar redução significativa e irreversível do coeficiente de inteligência (QI).

Os pesquisadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, da Universidade Duke, nos EUA, analisaram 1.037 pessoas nascidas entre 1972 e 1973 na cidade neozelandesa de Dunedin. A maioria dos participantes foi acompanhada dos 3 aos 38 anos de idade.

Cerca de 5% do grupo de estudo foram considerados dependentes de maconha, ou estavam fazendo uso da droga mais de uma vez por semana antes dos 18 anos. Aos 38 anos, todos os participantes do estudo passaram por testes psicológicos para avaliar a memória, velocidade de processamento, raciocínio e processamento visual. As pessoas que usaram maconha persistentemente na adolescência mostraram resultados significativamente piores na maioria dos testes. A pesquisa mostrou, aos 38 anos, uma diminuição média de 8 pontos no QI das pessoas que usaram a droga na adolescência.