TUDO.
Tudo volta a transcorrer como antes. Haverá festa e louvor pelo bom desempenho dos jogadores, com certeza. Muitos comentaristas vão reconhecer as qualidades da equipe brasileira. Mas a rotina necessária voltará a ocupar nossas necessidades básicas. A maioria dos brasileiros terá pago os custos e ingressos, com preços padrão FIFA, em todos os jogos. Alguns servidores e funcionários de Estatais foram convocados para reforçar as torcidas diante de jogos que poucos assistiriam pela TV. A presidente decidiu entregar o troféu da Copa, foi vaiada, mas a vida continua.
Uma parcela da população vai criticar o envolvimento da maioria na torcida pela seleção, esquecendo da discussão dos problemas brasileiros como ocorreu em junho de 2013. Foram muitos protestos nas vésperas da Copa das Confederações mas o Brasil ganhou. Naquela ocasião, os sindicatos simularam movimentos grevistas ao liberar os jovens para os protestos. O tema #OGiganteacordou foi usado para inflar a torcida com resultado positivo.
Muito se discute se o desempenho da seleção tem influência nas eleições. Penso que não. Mas parece que tem no governo. Os governos precisam de apoio popular para tomar decisões difíceis. Essas decisões são tomadas longe do período eleitoral. Se possível, com muito pão e circo. Outro fator que volta com força em tempos de Copa é o jogo. O jogo online está sendo patrocinado pelo fechamento dos cassinos e acusa um atraso conservadro em relação aos nossos vizinhos latinos e liberais.
Vivemos um tempo que os Mercados-Estado estão engolindo as Nações-Estado. As nações são uma criação recente, com o apoio dos mercados ainda restritos nas Cidades-Estado. Isso ocorreu no final da Idade Média. As nações emergiram no século VIII disputando os controles das Colônias e fronteiras na Europa. Esse conceito foi exportado para as Américas, Ásia e África. De certa forma, os Mercados operam dentro de certas características que aproximam as nações que compõem uma Civilização. Por exemplo, a China sempre atraiu outros países satélites como Coréia, Vietnam, Camboja, Malásia entre outros. Então, as decisões tomadas no âmbito desses Mercados se sobrepõem às decisões das nações. Assim ocorre na Europa e no Mercosul também. O Futebol é um mercado global. A FIFA possui mais países afiliados do que a ONU. Os jogadores, clubes e empresários estão submissos às regras da FIFA que no Campeonato Mundial mostra sua força máxima.
O jornalista Reinaldo Azevedo, crítico do governo, afirma no seu blog:
É fabuloso. Recebo no blog centenas de comentários por dia — coisa de gente que é paga para molestar os outros na Internet — me cobrando porque eu teria escrito que a Copa do Mundo seria uma catástrofe. É mesmo? Eu? Escrevo neste blog e na Folha de S.Paulo e faço comentários no Jornal da Manhã, na Jovem Pan, onde também tenho um programa diário: “Os Pingos nos Is”, que vai ao ar entre 18h e 19h. Está em recesso justamente por causa dos jogos da Copa. Volta ao ar na próxima sexta. Muito bem! Tudo o que escrevo e falo está em arquivo. Tentem encontrar uma só fala ou um só texto meus antevendo o desastre. Não há. Porque nunca achei. Ao contrário: cheguei a alertar que esse negócio de “Não Vai Ter Copa” era coisa de imbecis. Porque, por certo, haveria Copa, e a força do espetáculo se imporia, ainda que com contratempos — que existem.
Cheguei a esculhambar na Jovem Pan uma reportagem da revista alemã Der Spiegel, que fez uma abordagem que me pareceu absolutamente equivocada sobre a Copa, sugerindo, ainda que sem querer, que esse negócio de estádios muito sofisticados não era compatível com a realidade brasileira. Como meus leitores e meus ouvintes estão cansados de saber, jamais me encantaram os protestos de rua, desde junho do ano passado. Boa parte deles abrigou manifestações francamente criminosas, da extrema esquerda e de grupelhos de radicaloides que estão a precisar é de pais severos que lhes puxem as orelhas e lhes cortem as mesadas.
Estamos, isto sim, é diante de mais uma jogada dos marqueteiros do poder e de seus braços na imprensa. Agora saem por aí a dizer: “Estão vendo? Os pessimistas estavam errados. A Copa é um sucesso!” É claro que o evento, em si, seria bem-sucedido. Era preciso ser muito abestado para dizer que não. O ponto é outro. Ou: os pontos são outros.
As benfeitorias permanentes que viriam junto com a Copa do Mundo chegaram em proporções muito modestas. Além dos estádios e da privatização dos aeroportos, há pouco a comemorar. Aliás, tanto o torneio de futebol como a Olimpíada serviram, isto sim, para tirar o governo de sua tacanhice ideológica e obrigaram Dilma a privatizar parte do setor aeroportuário, o que ela e o PT se negavam a fazer. Nesse sentido, aquilo que os petistas não fizeram para servir aos brasileiros, viram-se obrigados a fazer para atender aos estrangeiros.
ATENÇÃO! EU ACHO QUE DILMA É UMA PRESIDENTE MELHOR PARA OS ESTRANGEIROS DO QUE PARA OS BRASILEIROS, ENTENDEM? O PT, felizmente, se envergonha diante dos turistas e, infelizmente, não se envergonha diante do povo. Até outro dia, tínhamos de ouvir a cascata imoral de que havia muita gente reclamando da situação dos aeroportos porque estava incomodada com a presença de pobres.
Não havia como a Copa, em si, ser um fiasco. O que é decepcionante para os poderosos de turno — e bom para o país — agora, sim, é outra coisa: o governo não está conseguindo faturar politicamente com o evento. Afinal, Dilma não consegue discursar num estádio, não é mesmo? Recebe vaias e xingamentos até quando não está presente.
Segundo o planejado, a esta altura, a presidente deveria estar vivendo o momento da apoteose, com a popularidade nas alturas, caminhando para um mero ritual homologatório na eleição de outubro. E isso não vai acontecer. No meio da competição, o PTB, um partido da base, muda-se para o lado do candidato do PSDB, Aécio Neves. O PMDB do Rio, como se viu neste domingo, rachou, para valer, e vai fazer a campanha “Aezão” — isto é, vai apoiar o peemedebista Luiz Fernando Pezão para o governo do Estado e Aécio para a Presidência. Outras seções do partido não endossarão a candidata petista.
Assim, tudo vai bem com a Copa em si e relativamente bem com o seu entorno. Ruim para o governo é outra coisa: a população aprendeu a distinguir o evento em si da questão política. Quando essas duas coisas se misturam, ainda é contra os interesses do Planalto. Dilma deveria estar no auge de sua força. E, por enquanto, ela está perdendo apoio, não ganhando. Com ou sem o sucesso da competição.