No Censo IBGE de 2000, no município de Curitiba, 71% da população se considerava católica. Chama a atenção também em Curitiba a redução acentuada dos católicos, uma das mais baixas verificadas nas capitais brasileiras, de -8,5 pontos percentuais, entre 1991 e 2000. Aliás, menores perdas da Igreja Católica se constituem numa característica comum às capitais da Região Sul do Brasil.
Os evangélicos de missão representavam 4,6% da população de Curitiba, enquanto nos outros municípios da região metropolitana correspondem a somente 2,4 % dos habitantes. Observa-se, ainda, na capital, uma tendência de os evangélicos de missão se mostrar mais expressivos nos bairros da parte central da cidade, onde representam geralmente mais de 5% dos habitantes.
A presença pentecostal se mostrava mais acentuada nos municípios da periferia do que no da capital, onde ela representa, respectivamente, 16,4 % e 13% da população. Apesar disso, o crescimento no período de 1991 a 2000, se apresentou moderado, +4,6 pontos percentuais, o que pode indicar que o processo de expansão do pentecostalismo já vem ocorrendo desde os anos 1980.
Curitiba é uma cidade onde os seus habitantes mostram uma forte ligação religiosa, e, por isso, as pessoas que se declaram sem religião correspondiam a menos de 6% da população, um dos menores percentuais entre as capitais brasileiras.
A queda no número de católicos, segundo o Censo 2010 do IBGE, é observada desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Em cem anos houve queda de 7,9 pontos porcentuais, mas, desde 1970, a redução na quantidade de católicos foi mais drástica. No Paraná, a porcentagem de seguidores da Igreja Católica ficou acima da média nacional, com 69,6% da população em 2010.
Para o professor de Teologia Luiz Alberto Sousa Alves, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o aumento do índice de evangélicos mostra o quanto os brasileiros estão em busca do apego a valores. “A família está meio perdida dentro de uma sociedade que pensa muito no consumo”, avalia. Na opinião dele, as igrejas evangélicas, em especial as pentecostais, dão respostas mais imediatas aos problemas vividos pela população. “Algumas igrejas fazem cultos específicos, para problemas de todos os tipos”, diz.
O aumento do número de evangélicos está ligado também à forma como as igrejas pentecostais chegam aos fiéis. De acordo com o professor de Geografia Valdomiro Lourenço Nachornik, da Universidade Tuiuti do Paraná, os meios de comunicação são decisivos para a ascensão dessas religiões. “O catolicismo hoje usa esse recurso, mas desde a década de 1980 os evangélicos utilizam o rádio e outras mídias para disseminar valores”, afirma.
Sobre a queda vertiginosa no porcentual de católicos, o professor Luiz Alberto afirma que o catolicismo se mantém preso às tradições, com uma mudança mais lenta de valores. “A Igreja Católica, de certa forma, está conseguindo conter um pouco esse quadro com a inclusão de alguns elementos, como cânticos e danças, igual aos dos evangélicos. Mesmo assim a ortodoxia deixa a igreja mais presa ao passado”, afirma.
Alves comenta que o movimento que ocorre com a Igreja Católica é o mesmo observado nas evangélicas de missão, também tradicionais e que tiveram queda de fiéis. Houve pequena retração na porcentagem de seguidores das igrejas protestantes mais antigas, como Luterana e Presbiteriana, de 4,1% para 4%.
Ainda dentro do segmento evangélico da população, o número de seguidores das pentecostais (Igreja Universal do Reino de Deus e Assembleia de Deus, por exemplo) teve aumento (de 10,4% para 13,3%). A maior alta nesse segmento foi observada entre os evangélicos sem igreja determinada, que passaram de 1% para 4,8% dos brasileiros.
Segundo o teólogo, o aumento registrado na última década é menor do que o observado em décadas anteriores, o que mostra que muitos evangélicos estão migrando. “Um exemplo é a Igreja Universal do Reino de Deus, que está perdendo adeptos para uma dissidência deles, a Igreja Mundial [do Poder de Deus]”.
No Censo IBGE de 2000, São Paulo apresentava 68% da maior cidade da América do Sul, como católica. A redução do percentual de católicos, entre 1991 e 2000, foi acentuada, atingindo -10,3 pontos percentuais no município da capital e -11,9% nos municípios da periferia.
Na verdade, é na região Leste que se encontra a área menos católica da cidade, com percentuais inferiores a 60%, podendo chegar mesmo a 40% em bairros da capital, como Cidade Tiradentes e Guaianases, e nos municípios de Poá e Ferraz de Vasconcelos. Em contrapartida, no sudeste, em São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Santo André, a religião católica se mantém fortemente implantada com cerca de 70% a 75% de fiéis.
Os evangélicos de missão representavam menos de 3% da população, tanto da capital quanto do restante da região metropolitana. Além disso, o seu crescimento de menos 1 ponto percentual, entre 1991 e 2000, se mostrou pouco significativo. Dentre os grupos que integram essa confissão religiosa, os batistas predominam, com 1,5% da população, seguidos pelos adventistas, com 0,7%.
Os evangélicos pentecostais representavam 12% da população da capital e 16% dos habitantes dos demais municípios da região metropolitana. Observou-se, também, no período de 1991 a 2000, um crescimento expressivo de +6 pontos percentuais na cidade de São Paulo e de +7,5% no restante da sua região metropolitana.
Em São Paulo há vários grupos religiosos minoritários, que se expressavam numa certa diversidade de cultos existentes na cidade. Assim, há na capital quase 40 000 judeus, 90 000 budistas e 370.000 espíritas. São Paulo apresentava 9% da população que se declara sem religião, percentual semelhante, aliás, ao do restante da sua região metropolitana.
A cidade de São Paulo viveu uma pulverização evangélica sem precedentes na última década. Segundo novos dados do Censo, o número de evangélicos sem laços com uma igreja determinada aumentou mais de quatro vezes entre 2000 e 2010, enquanto a quantidade de fiéis que frequentam templos menores cresceu 62% nesse período. Juntos, esses dois grupos foram responsáveis por 96% do crescimento do rebanho evangélico da capital em uma década, de 825 mil fiéis.
Segundo o antropólogo Ronaldo de Almeida, da Unicamp e do Cebrap, o novo mapa da configuração evangélica da capital paulista é fruto da especialização. “Há uma diversificação e uma maior infidelidade a uma instituição específica. O sujeito ainda se identifica principalmente como evangélico, mas hoje ele molda sua experiência religiosa. Quando quer ouvir um louvor com mais música, vai a uma igreja, quando quer cura, vai a outra, quando busca mensagem espiritual mais forte, busca outras.”
A antropóloga Diana Nogueira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, faz um paralelo com pessoas que querem perder peso e vão migrando de médico em médico. “A religião fortalece e ajuda as pessoas, mas não resolve muitos dos desafios que uma vida de periferia urbana lhes impõe. Com isso, algumas dessas pessoas vão de igreja em igreja, buscando soluções”, diz Diana.
Além da busca diversificada, há o surgimento de igrejas voltadas a nichos específicos, como a Crash Church Underground Ministry – que atrai roqueiros adeptos do thrash metal em seu templo no Ipiranga –, ou a Igreja da Comunidade Metropolitana, em Santa Cecília, voltada para o público homossexual. “O crescimento das igrejas evangélicas menores é muito visível. São as chamadas comunidades. Seus fundadores são pastores que já pertenceram a igrejas evangélicas maiores”, diz o vereador evangélico Carlos Apolinário (DEM).
Levantamento feito em 2008 pela equipe de Apolinário enumerou mais de 18 mil templos evangélicos em São Paulo, a maioria na zonas leste e sul. Ele estima que outras 2 mil tenham sido criadas desde então. Para se ter uma ideia, o total de paróquias católicas não chega a 500 na capital paulista.
Outros dados do Censo chamaram a atenção. A Assembleia de Deus teve um aumento de fiéis de 36% – menor que o da média nacional (46%. Já os evangélicos de missão – grupo que inclui batistas, luteranos, presbiterianos, metodistas e adventistas – tiveram uma queda de 13% em São Paulo e aumento de 11% no País.
Entre as pentecostais, o destaque vai para a perda acentuada de fiéis em São Paulo da Congregação Cristã (27%) e da Igreja Universal (37%), enquanto no País o rebanho de cada uma encolheu 10%.