Em 2014, haverá eleições em 44 países emergentes, o maior número desde que passou o período de encanto com esses mercados, nos anos 2000. Alguns têm pouca relevância econômica, mas ocupam espaço importante na geopolítica mundial, como Afeganistão, Iraque ou Líbano. Outros têm importância política e econômica, incluindo gigantes populosos como Brasil, Índia e Indonésia. No total, cerca de 1 bilhão de eleitores definirão os governantes que, nos próximos anos, influenciarão a vida de mais de 2 bilhões de pessoas, um terço da população da Terra. Há combinações variadas de eleições para definir governantes nacionais, governantes locais e legisladores. É um ano belíssimo para a democracia. Mas, em nenhum dos países grandes, os investidores e administradores de fortunas veem grande chance de um resultado eleitoral ótimo para reformas, como ocorreu no México em 2012 e 2013.
Em alguns países, como o Brasil, não se detecta entre os favoritos nenhuma vontade de propor as mudanças necessárias. Noutros, como Índia e Turquia, o candidato com mais chances ou a formação mais provável do próximo Parlamento levarão a um governo fragmentado ou questionado, provavelmente fraco demais para levar adiante reformas difíceis.

“A frustração que foi vista nas ruas é movida por uma classe média que começa a se afirmar politicamente”, disse Christopher Torrens, diretor do centro de análises de risco Control Risks. Para ele, o ano que vem vai ser desafiador nesse sentido.

O receio dos investidores não é um fenômeno abstrato. Ele se manifesta de maneira bem desagradável. Na última semana de janeiro, houve uma retirada recorde de dinheiro dos mercados emergentes, em números absolutos.  Desde então, o ritmo da sangria diminuiu um pouco. Em fevereiro, a intenção de reduzir os investimentos nessas nações chegou ao maior nível já detectado pela Pesquisa com Administradores de Fundos (Fund Manager Survey), feita mensalmente desde 2001 pelo banco americano BofA Merrill Lynch. O dinheiro voltou a fluir para os Estados Unidos e para a Europa. Isso significa que os países mais pobres encontrarão dificuldade maior para atrair capital disposto a comprar, construir e financiar, tanto no setor privado como no governo. Para o cidadão, os resultados aparecem em combinações variadas de mais inflação, juros maiores e menos empregos.
O nervosismo do mercado em anos eleitorais é uma certeza. Ele ocorre mesmo quando não há nenhum maluco entre os candidatos com chances reais. O Brasil é um exemplo de país que sofrerá, mesmo que os principais nomes na disputa (Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos) sejam moderados. Um estudo feito pela empresa americana Fidelity Investments sugere que, em países emergentes, o mercado acionário costuma cair no período de três a seis meses antes de uma eleição. “O risco e a incerteza política são os maiores fatores para a anormalidade, mais do que um candidato ou partido em particular”, afirma Bob von Rekow­sky, estrategista na Fidelity. Caberá aos candidatos combater essa tendência colocando, sobre a mesa, boas ideias.

Um bilhão de eleitores. Nenhuma ideia (Foto: ÉPOCA)
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