O ópio é um líquido leitoso obtido da papoula, planta originária do continente asiático. Contém diversos princípios ativos que atuam sobre o sistema nervoso, produzindo sono e relaxamento. A heroína é um pó fino, de cor branca, marrom ou cinza, conforme a destilação, e provavelmente a mais nociva e mais perigosa de todas as drogas conhecidas, sendo derivada do ópio. A heroína vicia mais que a cocaína, maconha e as anfetaminas; só perde para a nicotina. As primeiras doses deixam um bem estar desconhecido, profundo e duradouro, sensação cada vez mais fugaz à medida que se instala a tolerância causada pelo uso repetitivo.
No Brasil, o custo desse derivado do ópio faz com que o número de usuários seja restrito, comparado com o dos dependentes de crack/cocaína. Na Europa, são centenas de milhares; na América do Norte somam mais de um milhão, contingente trágico que desintegra famílias e comunidades e contribui para a disseminação da Aids, das hepatites virais e da criminalidade.
Historicamente, o tratamento da dependência de heroína seguiu duas estratégias opostas. Adotado em torno de 1920, o modelo britânico preconizava a prescrição da droga para os usuários de classe média que se dispusessem a seguir orientação médica, método que permaneceu em vigor até os anos 1960. O modelo americano, ao contrário, seguiu o Harrison Narcotics Act, promulgado em 1914, que ameaçava de processo judicial todo médico que prescrevesse a droga. Os holandeses sempre tiveram suas dúvidas sobre a abordagem internacional de proibição. Já em 1920 eles definiram a abordagem norte-americana como ‘idealismo destrutivo’. A Companhia das Índias Orientais Holandesas tinha uma posição de liderança no mercado, registrando lucros de 26 milhões de florins com o ópio em 1914, antes da convenção entrar em vigor.
O uso da droga é um capítulo infame na história da China, que viveu entre 1830 e 1860 as chamadas Guerras do Ópio contra os britânicos. A legalização do ópio levou a uma popularização ainda maior entre os chineses, com as célebres casas de ópio. Só em Pequim havia pelo menos 700 no começo do século passado. Estima-se que 30% dos burocratas chineses eram viciados. A Inglaterra chegou a exportar 400 toneladas de ópio por ano para a China, para equilibrar a balança comercial devido à importação de chá, seda e porcelana. Em 18 de março de 1839 o imperador Daoguang – da dinastia Qing – baixou um decreto proibindo de vez o comércio de ópio, dando início as guerras perdidas para os ingleses.
Abordagens antagônicas como essas nada tinham a ver com as propriedades farmacológicas da heroína nem com a busca de evidências para encontrar a forma mais eficaz de livrar-se dela; refletiam apenas a postura de cada sociedade em relação ao consumo de drogas ilícitas. Vieram os anos 1960 e o dilema foi resolvido graças a um trabalho conduzido em Nova York que propunha o uso da metadona, um derivado da morfina, para tratar os usuários. A estratégia consistia em trocar a dependência de uma droga ilícita por outra, produzida pela indústria farmacêutica. A figura do traficante substituída pela do médico; em vez do dinheiro para a compra nas ruas, a receita gratuita aviada nos postos de atendimento público.
Programas de metadona por via oral se disseminaram pelo mundo. Na Inglaterra, substituíram os de prescrição de heroína, porque a classe médica considerou que finalmente havia uma opção terapêutica mais respeitável do que receitar uma droga ilícita para os usuários dela. A metadona teve dois méritos: colocou os dependentes em contato com o sistema de saúde e demonstrou ser capaz de diminuir os riscos do abuso de heroína, entre aqueles decididos a mudar de vida. Cerca de 15% a 25% dos usuários inscritos nesses programas, entretanto, abandonam o acompanhamento e voltam a injetar o opióide ilícito.
O Afeganistão produz 90% das drogas de ópio produzidas no mundo, mas até há pouco tempo o país não era um grande consumidor. Agora, porém, de uma população de 35 milhões, mais de 1 milhão de pessoas estão viciadas em drogas – proporcionalmente, a maior taxa do mundo. Em pleno centro de Cabul, nas margens do rio que tem o mesmo nome da capital, viciados se reúnem para comprar e consumir heroína. É um local de desolação e degradação.
Com a saída soviética e, portanto, com o fim do financiamento americano, aumentou a dependência pelos lucros com o mercado do ópio para sustentar a guerra. Nesse ambiente, nasceu o Taleban, sustentado em grande parte pelo tráfico de entorpecentes. Também segundo a pesquisa, o Taleban afirmava que, segundo as leis da sharia (código de leis do islamismo), o uso de ópio – assim como do álcool e da maconha – estava proibido, mas a sua produção e comércio eram permitidos.