A Igreja Católica é a nova vítima da crise de abastecimento na Venezuela. Depois da falta de papel higiênico, começa a faltar vinho para a celebração de missas. A escassez de produtos necessários para a produção de vinho obrigou o único produtor do país a parar de vender para a Igreja.
Recentemente, o governo venezuelano anunciou a importação de 50 milhões de rolos de papel higiênico, para combater uma demanda excessiva, gerada pela imprensa, segundo a teoria maluca do governo. “Não há deficiência na produção, mas sim uma demanda excessiva que gerou compras nervosas pela população, em decorrência da campanha midiática gerada para perturbar o país. Vamos saturar o mercado para que nosso povo se tranquilize e compreenda que não deve se deixar manipular”, disse o ministro do Comércio, Alejandro Fleming, há duas semanas.
Críticos acreditam que o problema da escassez no país está ligado ao forte controle estatal da economia e da produção interna insuficiente. Mas o governo acusa uma conspiração liderada pela oposição e a especulação dos preços pelo problema. “( Nosso fornecedor ) Bodegas Pomar disse que não pode mais fazer o vinho porque estão enfrentando dificuldades”, disse à BBC o porta-voz da Igreja Roberto Lucker. O porta-voz acrescentou que a reserva de vinho da Igreja duraria apenas mais dois meses, e que não sabia se a Igreja poderia importar vinhos do exterior. Ainda segundo Lucker, o problema não se limita ao vinho. “Os fabricantes de hóstia nos disseram que vão ter que aumentar os preços porque não conseguem encontrar farinha suficiente. O trigo não é cultivado aqui – tudo isso vem do exterior”, disse ele. “Um pacote de hóstia custava 50 bolívares (R$ 16), e agora custa 100.”
No Brasil, o preço do vinho e da hóstia também subiu. A bebida, que antes era vendida a R$ 19, hoje sai por R$ 30. Já o pacote da hóstia, cuja matéria-prima é a farinha de trigo, valia R$ 220 e subiu para R$ 320. Um reajuste de 58% e 45%, respectivamente. “Tudo aumentou, inclusive os artigos religiosos. É um reflexo da inflação”, diz Celeste.
Já em produtos como medalhas, santinhos e terços, o reajuste foi menor. Em geral, os fiéis perceberam um encarecimento de, em média, um real em cada item. O terço, que custava R$ 11, é oferecido por R$ 12. Fabricante de artigos religiosos, Rosanna Pascale diz que a matéria-prima ficou mais cara, influenciando o custo final. “Materiais como resina e metal aumentaram de preço. Mas, continuo vendendo pelo valor de antes. O comerciante, depois, revende pelo preço que quiser”.