Uma via elevada de 5,5 km de extensão virá ao chão, no Rio de Janeiro. A derrubada do elevado da Perimetral, construído em etapas entre os anos 1950 e 1970, com acessos para a Avenida Brasil, o Aeroporto Santos Dumont e a Ponte Rio-Niterói fazem parte de um projeto de reurbanização da zona portuária da capital carioca e tem entre os objetivos melhorar o tráfego na região, já saturado em 119%. “Trafegam hoje no elevado da Perimetral mais de 4.753 veículos em direção ao Centro, superando o ideal que é de dois mil veículos/ dia”, informa relatório da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP). As obras começaram em junho de 2011 e estão previstas para terminarem em 2016.
Os 144 mil motoristas que usam diariamente o Elevado da Perimetral e a Avenida Rodrigues Alves terão que se acostumar, a partir de abril de 2013, com rotas alternativas de acesso ao Centro e à Zona Sul pela Zona Portuária.


Conselheiro da seção Rio do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o arquiteto Luiz Fernando Janot é um dos urbanistas que não veem sentido nesse bota-abaixo contemporâneo: – Demolir parte da Perimetral e criar um túnel ao custo de bilhões, sem antes estudar outras possibilidades, é uma irresponsabilidade. Proponho a organização de um concurso público internacional para adequar o elevado às contingências da paisagem urbana e da dinâmica de transporte – critica Janot, referindo-se à intenção da prefeitura de fazer um mergulhão entre o Arsenal de Marinha e o Armazém 5, com 1.800 metros, para suportar o tráfego.
O arquiteto Jorge Jauregui, responsável pelos projetos urbanísticos dos complexos do Alemão e de Manguinhos, também é contra: – Um princípio básico da sustentabilidade é a reutilização do que existe. A Perimetral, no Centro, poderia ser um espaço público de lazer, com uma rua verde para pedestres e pequenos veículos elétricos, pegando como referência os bondinhos de Santa Teresa, capazes de interconectar o Aeroporto Santos Dumont e a rodoviária. Serviria como espaço de contemplação e via para se chegar ao trabalho.
Segundo ele, o viaduto poderia ter um sistema de Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) fixado a um dos lados de seus pilares. – Debaixo dele, poderia surgir um passeio coberto, com trabalhos artísticos como a obra do profeta Gentileza – acrescenta Jorge.
O arquiteto da moda, o valenciano Santiago Calatrava, disse logo que aquilo é horrível e que tem que ser derrubado. É claro, o cara não mora aqui, não paga impostos aqui e não sabe o que é uma cidade com carência de mais de 200 leitos de UTI, onde as pessoas não conseguem ser atendidas em hospitais ou postos de saúde e onde não tem escola pra todo mundo. E as escolas que temos são as que colocam o Rio de Janeiro entre os últimos do ranking brasileiro.
Na mesma matéria o secretário municipal de urbanismos, o arquiteto Sérgio Dias, diz que a demolição terá custo praticamente zero. Será que ele realmente acredita nisto?