A África está no meio de um épico massacre de elefantes. Grupos de preservação de animais dizem que caçadores estão matando milhares de elefantes por ano, mais do que em qualquer outra época nos últimos 20 anos, enquanto o mercado de marfim se torna cada vez mais militarizado.
Como os diamantes de sangue da Serra Leoa ou os minérios do Congo, o marfim parece ter se transformado na mais recente fonte de renda para conflitos na África. Facilmente convertido em dinheiro, o marfim estaria impulsionando várias guerras no continente.
Alguns dos grupos armados mais famosos da África, incluindo o Exército de Resistência do Senhor, em Uganda, e o grupo islâmico extremista somali Shaabab, estão caçando elefantes e usando seus dentes para comprar armas e se sustentar financeiramente. Cartéis de crime organizado ajudam esses grupos a distribuir o marfim pelo mundo, explorando Estados turbulentos, fronteiras porosas e autoridades corruptas desde a África Subsaariana até a China, dizem especialistas.
Mas não são apenas criminosos que caçam elefantes. Alguns membros de exércitos africanos treinados pelos EUA foram acusados de negociar marfim. Soldados congoleses, por exemplo, são frequentemente presos por matar elefantes. A Interpol está ajudando a investigar as mortes em massa de animais no parque de Garamba, na República Democrática do Congo, tentando cruzar o DNA do crânio dos elefantes com dentes que foram capturados recentemente no aeroporto de Uganda.
A maioria do marfim ilegal, que representa 70% da remessa total segundo especialistas, vai para China. E, apesar de os chineses cobiçarem há séculos o material, é a primeira vez que tantos deles podem comprá-lo. O boom econômico na China criou uma grande classe média, o que fez com que o marfim chegue a ser negociado a US$ 1.000 a libra, nas ruas de Pequim.
Ano passado, mais de 150 chineses foram presos por roubar marfim na África, e há evidências de que a caça a elefantes aumenta em regiões onde construtoras chinesas trabalham para abrir estradas.
– A China é o epicentro da demanda – diz Robert Hormats, autoridade veterana do Departamento de Estado dos EUA.
Estrangeiros há muito tempo dizimam a população de elefantes na África. O chamado “ouro branco” foi uma das primeiras razões para o rei Leopoldo II da Bélgica transformar o Congo em sua propriedade pessoal no final do século XIX, levando a um grande derramamento de sangue no país que ficou imortalizado pelo livro de Joseph Conrad “Coração das trevas”. A Costa do Marfim também tem seu nome por causa da caça a elefantes, depois de décadas, hoje, quase não há mais marfim no país.
A demanda por marfim atingiu tal ponto que dentes de um único elefante adulto podem valer dez vezes mais que a renda média anual de muitos países africanos. Na Tanzânia, moradores de vilarejos pobres estão envenenando abóboras e colocando-as na estrada para elefantes comerem.
Em 1989, no fim de uma década que viu o abate de pelo menos um elefante a cada dez minutos, o Quênia incinerou suas 12 toneladas de presas estocadas e a Cites anunciou a proibição global do comércio, que começou no ano seguinte. Nem todos os países concordaram. Zimbábue, Botsuana, Namíbia, Zâmbia e Malaui adotaram o regime de exceções, isentando-os da proibição, com base no fato de que suas populações de elefantes eram saudáveis o bastante para permitir o abate. Em 1997, a Cites realizou sua principal reunião em Harare, no Zimbábue. Na ocasião, o presidente Robert Mugabe afirmou que os elefantes ocupavam muito espaço e consumiam água demais – e que um modo de compensar isso seria o aproveitamento de suas presas. As autoridades do Zimbábue, de Botsuana e da Namíbia fizeram então uma proposta à Cites: elas acatariam a proibição do comércio desde que lhes fosse permitido vender presas de elefantes mortos legalmente ou de causas naturais.