O professor de psicologia Robert Feldman, da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, foi um dos responsáveis pela elaboração de um estudo que destaca a importância da mentira.
Em 2002, ele filmou a interação de 121 pares de pessoas que acabavam de se conhecer e constatou que elas mentiam, em média, três vezes numa conversa de dez minutos. Os resultados dessa pesquisa foram comunicados no artigo “Self-Presentation and Verbal Deception: Do Self-Presenters Lie More?“, cuja autoria pertence a Robert S. Feldman, James A. Forrest, e Benjamin R. Happ.
O problema, ressalta, é que meros desvios dos fatos podem crescer e virar uma bola de neve, gerando relacionamentos baseados no engano. “Devemos ser mais verdadeiros e demandar a honestidade”, conclama Feldman. Na maioria das vezes, a realidade é deturpada sem malícia. São as mentiras brancas, que funcionam, nas palavras do especialista, como “lubrificantes sociais”. Isso não acontece apenas nas conversas entre estranhos, permeia também os relacionamentos mais íntimos.
Em outra pesquisa, realizada por Feldman em 2012, resultou que 81% dos candidatos mentem nas entrevistas para empregos. Em 15 minutos de conversa com empregadores, os 59 candidatos disseram uma média de 2,19 mentiras. Os cargos mais técnicos e as pessoas mais extrovertidas foram os que apresentaram maior nível de transgressão.
Em frente a Universidade Harvard, os guias motivam os turistas a atravessar os portões. O objetivo é dizer aos amigos, que “passou” pela mais antiga e conceituada universidade americana e esqueceu de pegar o diploma. Pare por alguns minutos aos pés da estátua de John Harvard (1607-1638). Esse é o local onde todos se fazem fotografar. Dizem que dá sorte. O local é conhecido como a “estátua das três mentiras”.
A primeira mentira é a placa do local que diz “John Harvard – 1638”, quando na realidade a escola foi criada em 1636; a segunda mentira é que Harvard foi um dos seus muitos fundadores (ele entrou apenas com dinheiro e doou sua biblioteca), ficando famoso por isso. A terceira mentira está na própria estátua, que consta não ser a verdadeira figura de Harvard, pois foi esculpida 175 anos depois da fundação da universidade. Há controvérsias quanto à sua verdadeira aparência física.
Segundo Ron Ashkenas, consultor de empresas e colaborador da Harvard Business Review, três motivos por que a mentira fazem parte da gestão empresarial de qualquer tempo e lugar – e por que é tão difícil acabar:
- todo gestor quer cultivar uma imagem positiva de si mesmo.
Se você é de carne-e-osso, quer que todos gostem de você – sobretudo aqueles que têm poder concreto sobre sua vida, como pais e chefes. Como todo humano, um executivo comete erros, e parte em busca de justificativas e desculpas. Na maior parte dos casos, os motivos listados para o erro são uma meia-verdade.
2. Todo gestor quer agradar o máximo de gente
Quantos executivos têm coragem de dizer, sem enrolação, que alguém está errado? Ou que o trabalho de meses está fadado ao fracasso? Para angariar apoio e simpatia, não basta apenas fazer com que pensem bem de si próprio. Um gestor também acaba fazendo vista grossa aos erros dos outros, apenas para evitar atritos e ganhar aliados. Dizer o que vem à cabeça, doa a quem doer, apenas por amor à verdade ou para desconsertar as pessoas é coisa do Dr. House.
3. A mentira pode ajudar o negócio
Empresas têm metas a cumprir. Executivos têm metas a cumprir. Acionistas cobram resultados. E nem sempre é conveniente para uma companhia revelar todos os detalhes de uma transação – como, por exemplo, um forte risco de atrasar a entrega do produto. No limite (ou além dele), essa situação leva a fraudes contábeis e todo tipo de desgoverno.
Para Ashkenas, a mentira nas organizações tende a perdurar tanto quanto as empresas. “Como gestores, o melhor que podemos fazer é estarmos mais conscientes de por que evitamos ou omitimos a verdade, e ter certeza de que o façamos na ocasião correta.”