O Qatar possui uma população de 1,7 milhões de pessoas. A média de crescimento anual de sua economia foi de aproximadamente 15% nos último cinco anos. A expectativa de vida no país subiu para 78 anos e o consumo de água por pessoa cresceu para 430 litros de água por ano. Esse consumo de água está entre os mais altos do mundo. O Qatar sobrevive à escassez de água por causa dessa máquina gigante chamada dessalinização. Doha, a capital, abriga 83% da população de todo o país.
Qatar é o destino de imigrantes vindos do sul e sudeste da Ásia. Entretanto, muitos caem nas mãos de traficantes e são transformados em escravos domésticos. Em grau menor, alguns são sujeitados à exploração sexual. Apesar de a capital do país parecer uma cidade moderna, sediando a maior rede árabe de notícias, a Al Jazeera, a cultura do Catar ainda é tribal. A sociedade sofre com o alcoolismo, abuso sexual (três a cada quatro meninas são vítimas), violência doméstica e repressão da mulher.
A Copa do Mundo FIFA de 2022, que ocorrerá no Qatar, reflete bem essa política de desenvolvimento. Autoridades responsáveis pela candidatura do país para receber a competição garantiram que serão desenvolvidas tecnologias para baixar a temperatura em cerca de 20° dentro dos estádios de futebol.
Fernando Costa, em seu blog comenta: “… Dona da terceira maior reserva mundial de gás natural, a monarquia qatari aposta em estratégia geopolítica que alterna o “soft power” (alianças obtidas pela persuasão e generosidade) e o “hard power” (poderio financeiro e militar) para projetar influência e prestígio.
O emir Hamid bin Khalifa al Thani deixou clara sua ambição de colocar seu país no tabuleiro geopolítico tão logo chegou ao poder, após derrubar o regime do pai, em 1995. Desde então, Al Thani fundou a hoje mundialmente conhecida emissora Al Jazeera, investiu bilhões na Europa, arrematou a Copa do Mundo de 2022 e costurou acordos de paz em vários países.
Embora adepto de um islã sunita conservador, o emir adotou um pragmatismo que o levou a cultivar tanto elos cordiais com o rival xiita Irã quanto um pacto de amizade com os EUA, a quem cede espaço para uma base que abriga milhares de soldados americanos a oeste de Doha. O Qatar quer deixar sua marca no mundo.
Mas o esforço para crescer sem gerar hostilidade desandou a partir de 2011, quando o emir alinhou-se às forças islamitas sunitas que se consolidaram no rastro das revoltas contra ditadores árabes. Na Líbia, o Qatar enviou caças para engrossar os bombardeios ocidentais que culminaram com a morte de Muammar Gaddafi. Desde então, políticos líbios se queixaram de que o emir só ajuda facções alinhadas com a ideologia islamita do Qatar.
No Egito e na Tunísia, Doha aparece como o maior aliado político e provedor de fundos dos líderes islamitas eleitos após as revoluções. À medida que aumenta a insatisfação popular contra os novos dirigentes, egípcios e tunisianos irritam-se com a suposta ingerência qatari. Já no Bahrain, o Qatar é acusado de aplicar dois pesos e duas medidas. Em vez de apoiar o levante da população predominantemente xiita contra o regime, alinha-se com a monarquia sunita responsabilizada por violações de direitos humanos. Outro envolvimento controverso ocorre na Síria. Al Thani coordenou a expulsão do regime de Bashar Assad da Liga Árabe e prega abertamente um ataque militar para derrubar o ditador. Doha financia combatentes sunitas, o que enfurece rebeldes sírios com agenda secular…”
Em março de 2008 foi inaugurada a primeira igreja cristã oficial, a igreja católica romana Santa Maria. Até então, os cristãos não tinham permissão para cultuar publicamente. Não houve nenhuma mudança no status de respeito pela liberdade religiosa, pelo governo. Sunitas e xiitas muçulmanos praticam o islamismo livremente. Cristãos, hindus, budistas e praticantes em geral adoravam em locais privados, sem o assédio do governo ou da sociedade, mas houve restrições à adoração pública.
No século XVIII, a família al-Thani conseguiu unificar as tribos do país, embora ainda estivessem sob domínio do Bahrein. Em 1868, o clã al-Thani conseguiu a independência do país, com a mediação da Inglaterra. Em 1916, o país tornou-se um protetorado britânico, situação que perdurou até 1971, quando o Catar obteve sua independência.
Segundo a Constituição do Catar, o islamismo é a religião oficial do Estado e a base do sistema legal. Esta mesma Constituição, no entanto, garante direitos democráticos. O respeito à liberdade religiosa melhorou nos últimos anos. A Constituição explicitamente prevê a liberdade de culto, tendo adotado leis que permitem liberdade de reuniões públicas. Essa dicotomia reflete-se na sociedade. Embora qualquer tentativa de evangelismo seja proibida, os estrangeiros cristãos são livres para organizar e divulgar seus serviços de culto, e ministros cristãos têm liberdade para entrar no país e viajar pelo território sem nenhuma restrição.
O governo regula a distribuição de materiais religiosos, mas há permissão para se importarem Bíblias. Missionários contam que os convertidos sofrem uma perseguição severa por parte de sua família e do governo, podendo até ser mortos por isso. Por essa razão, ex-muçulmanos protegem sua identidade e não querem nem ter contato com outros ex-muçulmanos, temendo fofocas, traição e perseguição.
Quase todos os ex-muçulmanos catarianos se convertem fora do país, quando cursam universidades no ocidente, por exemplo, mas a maioria não retorna ao país após sua conversão, temendo a perseguição. O governo, há anos, tem permitido que comunidades cristãs católicas, ortodoxas, anglicanas e de outras denominações protestantes reúnam-se informalmente em cultos domésticos, mediante notificação prévia às autoridades locais.
Nenhum grupo missionário estrangeiro tem operado abertamente no país. Em junho de 2004, entrou em vigor um novo código criminal estabelecendo novas regras para a conversão. Quem for flagrado pregando em nome de uma organização, sociedade ou fundação que não seja islâmica, pode ser condenado a até dez anos de prisão. Se a pregação for feita no âmbito individual, a detenção é de até cinco anos. Segundo essa nova lei, as pessoas que possuem materiais escritos ou gravados, ou itens que promovam a atividade missionária, podem ser detidas por até dois anos.
Recentemente, um líder ocidental, nascido e criado na Península Arábica, declarou: “O Golfo está se tornando um verdadeiro campo de testes para se verificar se o islã pode conviver com a diversidade em seu meio. Até o momento, no que se refere à luta entre os muçulmanos moderados e os mais radicais, os governantes são obrigados a adotar uma postura extremamente cautelosa antes de tomar qualquer decisão”.