O economista e articulista de VEJA Gustavo Ioschpe autor do livro O que o Brasil Quer Ser Quando Crescer?, comenta: “Os pais devem entender como um alerta duplo. Primeiro, de que o seu papel é fundamental para o sucesso educacional dos filhos. Alunos que vêm de casas onde o saber é valorizado, onde há livros e acesso a bens culturais, que são estimulados pelos pais, têm desempenho acadêmico melhor. Não basta aos pais, portanto, achar que sua tarefa termina no momento em que coloca o filho em uma escola, mesmo que seja uma boa escola. E, segundo, que a ansiedade que vitima muitos pais sobre a decisão da escola em que vão matricular o filho é muitas vezes desnecessária. A base familiar é mais importante do que a escola, infelizmente, na determinação do aprendizado dos filhos. Digo“infelizmente” porque isso significa que os alunos de famílias de alto nível sociocultural têm uma enorme vantagem em relação aos alunos desfavorecidos, e seria necessária uma escola pública excepcional para contrabalançar essa diferença de berço, e o que vemos no Brasil é justamente o oposto: os alunos com os melhores backgrounds vão para as melhores escolas, e as escolas que atendem os mais pobres são as mais abandonadas. Por isso é que a desigualdade educacional, no Brasil, é a variável mais importante para explicar a desigualdade de renda no país, respondendo sozinha por entre 40% e 50% das diferenças de renda.”

No livro que reúne 34 artigos publicados em VEJA entre 2006 e 2012, Ioschpe se vale de um arsenal de pesquisas e de uma argumentação coerente para desconstruir um a um os mitos que pairam como uma camisa de força sobre o ensino brasileiro. Um deles diz respeito à escassez de dinheiro para a educação – a raiz de nossos males, diria a esmagadora maioria. Pois os números apresentados por Ioschpe demonstram que o Brasil despende para a sala de aula quase tanto quanto o clube dos países mais desenvolvidos da OCDE (5,7% em relação ao PIB nós X 5,8% eles, se comparados os gastos públicos). Mas só se o investimento subir será possível dar o grande salto de que precisamos, muitos ainda insistiriam. Talvez não saibam que, mesmo quando países como China e Coreia do Sul se lançavam em sua exitosa corrida rumo à excelência, não excederam os atuais gastos brasileiros. E, ainda que o Brasil destine mais dinheiro à área, como está previsto, não há garantia de sucesso, alerta Ioschpe. Na última década, o país foi vice-campeão em aumento de recursos para a educação, mas continuou na rabeira do ensino. Os reajustes no salário dos professores tampouco se traduziram em avanços relevantes na sala de aula – nem mesmo nas escolas particulares. Um dos artigos expõe um dado que derruba a crença de que elas são um oásis de bom ensino: os alunos mais ricos do Brasil têm desempenho pior do que os mais pobres dos países que estão no topo.

Na verdade, cotas sociais são mais justas do que cotas raciais. A princípio, defendi a cota racial mas ela deixa de fora filhos de famílias com baixa renda. Por exemplo, casais cujo cônjuge é negro ou índio pode possibilitar o acesso ao sistema de cotas raciais. Por outro lado, algumas dessas famílias pertencem à classe média, portanto seus filhos não deveriam ser incluídos no sistema de cotas.

Ser justo dá trabalho. Assistentes sociais poderiam levantar a situação sócio-econômica do aluno para verificar a candidatura ao sistema de cotas sociais. Precisamos sair do sistema bio-político de bolsas para um sistema de elevação social. O Brasil precisa de investimento social para que as famílias sejam empreendedoras. Um caso típico é das famílias de pescadores. O Governo precisa transformá-los de coletores de peixes para criadores em aquaculturas. Imaginemos nosso litoral e rios, cheios de fazendas de peixes, gerando riqueza para milhares de famílias.

Isso é investimento social com educação aplicada.

Gasto com educação - Brasil