Porque muita sucata do resto do mundo vem parar aqui? Temos uma grande demanda por lixo reciclável, muito maior do que produzimos. E muitas empresas de importação lucram com isso. O comércio global de lixo tem regras internacionais desde 1992. A Convenção da Basiléia, firmada na Suíça, restringe a exportação de lixo tóxico mas libera a de materiais usados para reciclagem. A lei brasileira segue a mesma linha.

“Trazemos essa sucata de fora porque existe uma demanda muito forte no país por essa sucata e a oferta de lata usada de alumínio é menor que a demanda. Por isso a importação”, explica o gerente de fábrica de alumínio Marcelo Csuka.

Suco de El Salvador, cerveja dos Estados Unidos e até de Cuba. O Brasil importa todo esse lixo e paga muito bem por ele. Uma tonelada de lata de alumínio usada chega a custar R$ 2,6 mil.

A indústria de plástico é outra que importa sucata. Os flocos de pet viram tecidos, vassouras e embalagens. As empresas compram pet usado de outros países porque no Brasil apenas 60% das garrafas são coletadas.

O Ministério do Comércio Exterior, que libera a licença de importação, não vê problemas na compra da sucata.

“Alguns desses itens são insumos essenciais para simplificar o processo produtivo, principalmente de siderúrgicas. Tanto assim que alguns países criam dificuldades para exportação desses itens”, afirma o secretário de comércio exterior Welber Barral.

O Brasil produz por ano 170 mil toneladas de resíduos da indústria têxtil. São retalhos de calças, camisas e meias que poderiam ser reaproveitados por outras indústrias. No entanto, mais de 90% dos restos de tecido são descartados incorretamente, de acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).

Porto Suape – Pernambuco. Uma carga com lixo hospitalar vinda dos Estados Unidos, identificada como ‘tecidos com defeito’, foi apreendida pela Polícia Federal em Onze de outubro de 2011.

Porto de Itajaí – Santa Catarina. Cerca de 60 toneladas de carga identificada como aparas de plástico para reciclagem foi interceptada, e na realidade continha lixo misturado, insetos e materiais em estado de decomposição em setembro de 2011.

Porto de Rio Grande – Contêineres com 22 toneladas de resíduo domiciliar oriundo da Alemanha foram apreendidos em agosto de 2010. A carga deveria conter aparas de polímeros de etileno para reciclagem.

O que há de semelhante nestes casos?
Países desenvolvidos mandam seu lixo disfarçado para importadoras brasileiras que utilizam material para reciclagem.

É tão absurdo acreditar que de fato os países ditos ‘desenvolvidos’ ainda nos encaram como latrina para seu lixo. E ainda utilizam o discurso verde para barrar importação de produtos brasileiros. Também é muito absurdo ver que, com tanta geração de resíduos no país, ainda precisamos importar resíduos para reciclagem. Mesmo com o avanço do discurso da reciclagem, apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos, há tanto tempo discutida e finalmente aprovada, não somos capazes de atender esta demanda?

O Brasil importou, oficialmente, mais de 223 mil toneladas de lixo entre 2008 e 2009, a um custo de US$ 257,9 milhões. No mesmo período, deixou de ganhar cerca de US$ 12 bilhões ao não reciclar 78% dos resíduos sólidos gerados em solo nacional e desperdiçados no lixo comum por falta de coleta seletiva – o País recicla apenas 22% do seu lixo.  A destinação do lixo urbano é uma atribuição constitucional das prefeituras, mas apenas 7% dos 5.564 municípios brasileiros têm coleta seletiva. Mesmo importando, as 780 empresas de reciclagem brasileiras, hoje, atuam com 30% da capacidade ociosa por falta de matéria-prima.

“A falta de coleta seletiva abre espaço para a importação de lixo, inclusive ilegal”, diz o presidente da Cempre, Francisco de Assis Esmeraldo. Em 2008, a reciclagem de plásticos faturou R$ 1,8 bilhão e criou 20 mil empregos diretos. Mas, apenas 21% do produto encontrado no lixo do Brasil foi aproveitado. “Gastamos milhões de dólares, na última década, para desenvolver uma indústria de reciclagem capaz de dar uma destinação para o descarte no Brasil, mas hoje cuidamos do lixo de fora, enquanto o nosso continua a lotar os aterros”, esbraveja o presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET, Auri Marçon.

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