Hélio Schwartsman: O fato de o comando petista ter reagido firmemente procurando lideranças religiosas nos últimos dias da campanha e esconjurando a descriminação do aborto de seu programa também é sugestivo de que as sondagens do partido captaram a tendência, deflagrando uma operação de redução de danos.

Se confirmado como um fenômeno de grandes dimensões, seria a primeira vez que a religião se torna uma variável relevante em eleições majoritárias no Brasil. É justamente aí que mora o problema.

Cesar Maia, no seu ex-blog: O paradoxal é que Marina não cresceu pelas razões verdes, mas por seu próprio perfil pessoal, seus valores e convicções. Os escândalos divulgados serviram de lastro para uma percepção de inconfiabilidade, o que impulsionou o voto em defesa dos valores cristãos, em defesa da vida e da família.

Wall Street Journal:  “Muitos religiosos retiraram o seu apoio à sra. Rousseff depois de uma agressiva campanha na internet convencê-los de que a candidata é a favor da legalização do aborto”, diz o texto, assinado por Paulo Prada. Para ele, o esforço para conquistar esses eleitores “marca a primeira vez que a crescente comunidade evangélica se tornou o foco de eleições nacionais”.

– Se tivéssemos apagado o incêndio no primeiro momento, o resultado seria outro – disse Manoel Ferreira.

O pastor preside um dos ramos da maior igreja evangélica pentecostal do Brasil (de acordo com o Censo de 2.000, 8,4 milhões de fiéis), enquanto Rodovalho diz contar com um rebanho de 1 milhão de pessoas na Sara Nossa Terra. Ele disse que a onda de boatos tentou resgatar “a imagem do passado” de Dilma, associando-a de forma terrorista ao desprezo aos valores cristãos. Segundo ele, “todo mundo” na igreja tomou conhecimento dos boatos.

– Foi coisa montada. A internet passou a ser um veículo do submundo da política.

Embora associe o bom desempenho de Marina Silva (PV) a uma série de fatores, o professor Cesar Romero Jacob, autor de estudos sobre a geografia do voto e a filiação religiosa no Brasil, disse que a questão religiosa contribuiu para o sucesso da candidata verde. Entre outras razões, Cesar disse que os pentecostais têm demonstrado, nas últimas eleições, uma tendência a votar em “irmãos” como Marina, que também pertence à Assembleia de Deus. Em pesquisas anteriores, o cientista político detectara essa tendência na eleição presidencial de 2002, quando o evangélico Anthony Garotinho ficou em terceiro lugar, e de Marcelo Crivella, quando disputou a prefeitura carioca em 2004.

Eduardo Campos (PSB), disse que os votos dados à candidata Marina Silva (PV) foram “uma certa lição” que o eleitorado quis dar ao governo que era necessário o segundo turno. Ele admitiu que a campanha da petista Dilma Rousseff cometeu alguns erros e avisou que o presidente Lula terá uma comportamento mais ameno. O governador reclamou que houve uma campanha “fascista” contra Dilma devido às suas posições em relação ao aborto, por exemplo.

Ciro Gomes: ‘frouxidão moral dá votos à Marina’.  “[É preciso ter] um diálogo com esse brasileiro maravilhoso, que votou em mim e que votou na Marina agora, que é classe média, que tá zangada com despudores, com essas frouxidões morais aqui e ali, essa simplificação grosseira que a política de São Paulo quer impor ao país de que só existe vida inteligente no PSDB e no PT”.

Miriam Leitão:  O fenômeno Marina Silva tem de ser estudado pelos analistas, porque ela contrariou o que todos tinham como certeza absoluta. Uma delas: quem tem 1 minuto e 17 segundos na propaganda eleitoral não tem chance nenhuma; outra: quem tem um partido pequeno, com pouca capilaridade, não consegue votos, mas ela teve 20%. Ela tem carisma, empatia…

O Fórum Político Evangélico do Espírito Santo e a Associação dos Pastores Evangélicos da Grande Vitória (APEGV), anunciaram, em 6/10/2010,  que vão fazer campanha contra a candidata petista, Dilma Roussef, no Espírito Santo. Hoje, estima-se que um terço da população capixaba seja evangélica, o que significa cerca de 1,2 milhão de pessoas.

Como resumiu o diário espanhol “El Mundo“, “tanto Dilma como (o candidato do PSDB, José) Serra eram personagens secundários” no dia seguinte às eleições, embora ambos tenham obtido, juntos, 80% dos votos.

“A única triunfadora foi Marina Silva, a ex-ministra rebelde e defensora do movimento ecologista, que protagonizou uma incrível subida na reta final da campanha”, escreveu o jornal. No artigo, denominado “Marina Silva, chave da herança de Lula”, o repórter do diário espanhol diz que “o cofre que guarda a herança de Luiz Inácio da Silva permanecerá fechado por outras quatro semanas”.

“Só Marina tem as chaves do cofre. Ela será o árbitro da segunda rodada.”

Na Grã-Bretanha, a votação da candidata do PV despertou entusiasmo. O The Guardian” afirmou que Marina Silva se tornou “figura central” na disputa.

O austero diário financeiro “Financial Times” disse que a ex-ministra do Meio Ambiente foi “a única candidata que injetou vida” na disputa entre a “dama-de-ferro” (Dilma) e o “coveiro” (Serra).

“É uma reversão total do que parecia uma conclusão feita: que o país está crescendo economicamente, que os mercados estão escalando as alturas, e que a incessante campanha de Lula ao lado de Rousseff inevitavelmente lhe daria a vitória em uma bandeja.”